Fugas - Viagens

  • Celebrações de Ano Novo, a 1 de Janeiro 2013
    Celebrações de Ano Novo, a 1 de Janeiro 2013 Syamsul Bahri Muhammad/Reuters
  • As Petronas no horizonte
    As Petronas no horizonte Bazuki Muhammad/Reuters
  • As Petronas no horizonte
    As Petronas no horizonte Beawiharta/Reuters
  • No bairro comercial Bukit Bintang, com as Petronas no horizonte
    No bairro comercial Bukit Bintang, com as Petronas no horizonte Bazuki Muhammad/Reuters
  • O frenético mercado Petaling
    O frenético mercado Petaling Sousa Ribeiro
  • Bazuki Muhammad/Reuters
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • As grutas de Batu, importante local de culto da comunidade hindu
    As grutas de Batu, importante local de culto da comunidade hindu Sousa Ribeiro
  • Mesquita Putra, Putrajaya, perto de Kuala Lampur
    Mesquita Putra, Putrajaya, perto de Kuala Lampur Bazuki Muhammad/Reuters

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As torres prateadas que mudaram a paisagem de Kuala Lumpur

Como um espasmo, sinto um estremecimento no corpo e todos os turistas, incluindo a criança de cabelos loiros, se entreolham, como se procurassem em cada rosto a resposta para aquela súbita inquietação. É simples: o elevador que nos conduz até ao piso 42 sobe a uma velocidade superior a seis metros por segundo mas já ninguém se lembra do pequeno sobressalto quando, abertas as portas, o corredor envidraçado da Sky Bridge deixa todos extasiados, oferecendo uma panorâmica única sobre os arranha-céus que crescem como cogumelos de um lado e do outro, como expressão viva da materialização do sonho asiático.  

Portal para o infinito

O passadiço, com uma extensão de 58 metros de comprimento e cinco de largura, não fazia parte do plano idealizado por Cesar Pelli. Mas, apercebendo-se rapidamente de que as torres abanariam com ventos fortes, o arquitecto encontrou uma solução de génio, uma ponte flutuante que é uma verdadeira obra-prima da engenharia e que, uma vez erguida a uma altura de 170 metros, se assemelha a “um portal – um portal para o infinito”, na definição do argentino naturalizado americano e também responsável pelo projecto do complexo World Financial Center, em Manhattan, bem próximo do World Trade Center.

Talvez motivado pela insistência do meu olhar e de um sorriso que merecia a sua cumplicidade, o pequeno acercou-se de mim sem o menor esboço de timidez naquele rosto angelical:

- Importa-se de nos tirar uma fotografia?

Com uma maturidade fora do vulgar e num inglês fluente para quem não é proveniente de um país anglófono, a criança teve a capacidade de me surpreender com as palavras que foi desenhando nos seus lábios e me transportaram para um passado bem recente:

- Vi-o anteontem, a fotografar, na Merdeka Square. Eu estava com a minha mãe, na bancada, a assistir ao desfile.

Só agora me dava conta de que aquele rosto, emoldurado no cabelo quase cor de palha, me era familiar. E, por instantes, enquanto tentava descobrir, por entre aqueles prédios tocando o céu azul, a histórica praça desde a Sky Bridge, senti-me abalado pelas recordações oníricas de uma manhã cheia de vida e cor.

Em tempos um campo de críquete destinado aos administradores britânicos (apenas os brancos tinham acesso), conhecido como Selangor Club Padang ou simplesmente Padang, Merdeka é um lugar com grande simbologia para o país — à meia-noite do dia 31 de Agosto de 1957 aqui foi proclamada a independência (em malaio merdeka), colocando um ponto final no domínio, mais comercial do que territorial, do Império Britânico. Por momentos, do alto da Sky Bridge, revejo a bandeira drapejando ao vento, imponente do alto dos seus quase cem metros, uma das mais altas do mundo, e a Merdeka enfeitada de outras mais pequenas que mãos de novos e velhos seguram numa demonstração de respeito e orgulho, proporcionando uma coreografia de infinita beleza, um mar ávido e dançante que se veste de branco, vermelho, azul e amarelo.

Atravessada por uma larga avenida, a Jalan Raja Laut, a praça está rodeada por um elegante conjunto arquitectónico, destacando-se, num dos extremos, o agora rebaptizado Royal Selangor Club, no seu estilo Tudor, baseado no modelo de casas campestres inglesas e identificado com sofisticação e riqueza. Na verdade, a este espaço acorre, desde finais do século XIX até aos nossos dias, a elite de Kuala Lumpur e foi também no seu interior, num anexo, que os agora mundialmente famosos Hash House Harriers deram o pontapé de saída em 1938 — o jubileu dos seus 75 anos, em Dezembro deste ano, em Kuala Lumpur, promete emoções fortes numa associação que começou por ser conhecida pela sua comida monótona e que, focada na actividade atlética (marcha ou caminhada), seguida de longas sessões de cerveja, não sente qualquer relutância em concordar com o slogan que frequentemente lhe é atribuído: um grupo de bebida com um problema de corrida.

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