Fugas - Viagens

  • Celebrações de Ano Novo, a 1 de Janeiro 2013
    Celebrações de Ano Novo, a 1 de Janeiro 2013 Syamsul Bahri Muhammad/Reuters
  • As Petronas no horizonte
    As Petronas no horizonte Bazuki Muhammad/Reuters
  • As Petronas no horizonte
    As Petronas no horizonte Beawiharta/Reuters
  • No bairro comercial Bukit Bintang, com as Petronas no horizonte
    No bairro comercial Bukit Bintang, com as Petronas no horizonte Bazuki Muhammad/Reuters
  • O frenético mercado Petaling
    O frenético mercado Petaling Sousa Ribeiro
  • Bazuki Muhammad/Reuters
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • As grutas de Batu, importante local de culto da comunidade hindu
    As grutas de Batu, importante local de culto da comunidade hindu Sousa Ribeiro
  • Mesquita Putra, Putrajaya, perto de Kuala Lampur
    Mesquita Putra, Putrajaya, perto de Kuala Lampur Bazuki Muhammad/Reuters

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As torres prateadas que mudaram a paisagem de Kuala Lumpur

Do lado oposto, sob um céu manchado de nuvens, ergue-se o imponente Sultan Abdul Samad Building, com as suas peculiares cúpulas banhadas de cobre e uma construção que mistura os estilos vitoriano, mouro e mogol, elementos típicos de alguns dos prédios coloniais que, aqui e acolá, ainda despontam na paisagem urbanística da capital. Projectado pelo arquitecto inglês Arthur Charles Alfred Norman, e concluído em 1897, após três anos de trabalhos, foi utilizado pela Administração Britânica para serviços de secretariado e, até 2007, como delegação dos tribunais Federal, Recurso e Supremo, acolhendo nos dias de hoje os ministérios de áreas como informação, comunicações e cultura.


A confluência enlameada

Nessa manhã, marcada por um forte sentimento de patriotismo e por sorrisos de crianças de diferentes etnias erguendo bandeiras de listas brancas e vermelhas e uma lua e um sol amarelos sobre um fundo azul, afastei-me por instantes dos sons festivos e deixei que os meus passos me conduzissem até à confluência dos rios Klang e Gombak, ao encontro da magnificente Mesquita Jamek, uma das mais antigas de KL e desenhada por Arthur Benison Hubback, um associado de Norman e, tal como este, famoso por idealizar projectos híbridos. Num ambiente sereno, escutando apenas o marulho da corrente dos dois rios, contemplo as palmeiras que se erguem acima de minaretes em tijolos em tons de rosa e de creme e de cúpulas em forma de cebola, enquanto procuro imaginar como era a vida, há pouco mais de 150 anos, neste ponto onde os rios se tocam.

Nessa época, mais precisamente em 1857, 87 prospectores chineses em busca de estanho atracaram no vértice do Klang e do Gombak e, observando aquela confluência enlameada, assim resolveram baptizar o lugar — em malaio é este o significado de Kuala Lumpur. A malária e outras doenças tropicais foram a causa da morte de sete dezenas desses pioneiros, mas a descoberta do precioso metal, em Ampang, a leste do centro de KL, e a consequente abertura de minas visando a sua exploração continuaram a atrair um elevado número de caçadores de tesouros.

A cidade, nesses tempos rodeada de uma selva densa e quase impenetrável, conheceu então um período de prosperidade mas, ao mesmo tempo, um índice de violência nunca visto, com a criação de gangues que, com inusitada frequência, se envolviam em rixas pelo controlo da produção de estanho. O estado de guerra entre as duas facções levou praticamente à paralisação dos trabalhos, obrigando os britânicos, que governavam Selangor como um dos Estados Federados Malaios, a nomear um chefe (designado capitão chinês) para administrar KL. Mas foi apenas com o terceiro destes líderes, Yap Ah Loy, responsável por reformas na lei, criação da primeira escola e alargamento da rede viária, entre outras medidas, que a até então pequena e obscura colónia evoluiu para uma próspera cidade mineira.

De regresso à Merdeka Square, volto a vibrar com a expressão efusiva de um povo em êxtase e perscruto, recortando-se acima dos telhados do edifício Sultan Abdul Samad, as duas torres cónicas, brilhando à luz dos raios solares como se tivessem acabado de ser polidas – na verdade são limpas duas vezes por ano para manter o lustro do aço inoxidável. 

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