Fugas - Viagens

  • Celebrações de Ano Novo, a 1 de Janeiro 2013
    Celebrações de Ano Novo, a 1 de Janeiro 2013 Syamsul Bahri Muhammad/Reuters
  • As Petronas no horizonte
    As Petronas no horizonte Bazuki Muhammad/Reuters
  • As Petronas no horizonte
    As Petronas no horizonte Beawiharta/Reuters
  • No bairro comercial Bukit Bintang, com as Petronas no horizonte
    No bairro comercial Bukit Bintang, com as Petronas no horizonte Bazuki Muhammad/Reuters
  • O frenético mercado Petaling
    O frenético mercado Petaling Sousa Ribeiro
  • Bazuki Muhammad/Reuters
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • As grutas de Batu, importante local de culto da comunidade hindu
    As grutas de Batu, importante local de culto da comunidade hindu Sousa Ribeiro
  • Mesquita Putra, Putrajaya, perto de Kuala Lampur
    Mesquita Putra, Putrajaya, perto de Kuala Lampur Bazuki Muhammad/Reuters

As torres prateadas que mudaram a paisagem de Kuala Lumpur

Por Sousa Ribeiro

Há 15 anos, a Malásia espantou o mundo com duas torres gémeas prateadas que alteraram radicalmente a paisagem da sua capital. Viagem através das Petronas e de uma cidade que é um caleidoscópio de cores, de religiões e de culturas.

E o pequeno, com os cabelos loiros caindo-lhe pelo pescoço em suaves caracóis, ali estava, sentado no chão, jogando às cartas com a mãe, numa ansiedade que as palavras apenas se limitavam a confirmar:

- Ainda falta muito?

Os primeiros alvores do dia são acompanhados de um cheiro penetrante a terra molhada, a relva e a flores que crescem em jardins incrivelmente viçosos, bem tratados e órfãos de lixo. A vibrante Kuala Lumpur, àquela hora banhada por uma luz mitigada, é ainda uma cidade dormente, entregue a uma quietude sonhadora que não se prolongará por mais de uma hora, dando lugar a um incessante movimento frenético.

- Já não falta muito, pois não?

Na sua impaciência eufórica, a criança levanta os bonitos olhos azuis para a mãe e, perscrutando à sua volta, tentando encontrar sinais de esperança, revela uma expressão de enfado. Ainda há bem pouco tempo, eram emitidos gratuitamente, de terça a domingo, entre 16 a 40 bilhetes num dos pisos inferiores das Torres Petronas, um número reduzido face à procura, o que obrigava o viajante a um despertar madrugador para garantir um dos ingressos.

Até há nove anos, altura em que se construiu o Taipei 101, em Taiwan, o edifício que se veste de prateado e, resplandecente, rasga os céus da grande metrópole asiática, era, com os seus 452 metros, o mais alto do mundo — continua a ser se a classificação analisar apenas torres gémeas. Mas, em Junho de 1993, quando foi apresentado o projecto, as Petronas não eram as mais altas do mundo, com os seus 432 metros, menos quase 20 metros do que as Seas Tower, em Chicago, na época ostentando o primeiro lugar. Em resposta a um pedido do cliente para bater o recorde, o arquitecto argentino, Cesar Pelli, decidiu-se por aumentar o tamanho dos pináculos. 

- Mãe, vão abrir a bilheteira. Rápido, mãe, levanta-te.

Estando por perto, naquele espaço silencioso, escuto a conversa e não deixo de ficar enternecido com a manifestação de alegria do menino que, com a sua expressão dócil e ao mesmo tempo tão viva, não deixa de atrair as atenções de uma sala que se sacode num alívio colectivo. Este ano a festejarem o 15.º aniversário desde a sua abertura (oficial foi apenas em 1999), as Petronas, verdadeiro ícone de KL, acrónimo de Kuala Lumpur, foram desenhadas por Cesar Pelli e expressam uma influência árabe perceptível em alguns detalhes: desde logo, na gigantesca estrela com oito lados que se espalma pela planta baixa e que encerra uma história conhecida por muito poucos.

Na verdade, o projecto inicial previa uma estrela com doze lados mas, com o argumento de que a geometria era mais árabe do que malaia, o primeiro-ministro na época, Mahathir Mohamad, ordenou a configuração actual. Ainda assim, outros traços mostram uma definição vincadamente árabe, como as cinco fiadas de cada torre (representam os cinco pilares do Islão), os pináculos com 73 metros de altura que as coroam, fazendo lembrar os minaretes de uma mesquita e a estrela representativa da religião. Outra mudança significativa teve a ver com a orientação das torres, ajustadas de forma a ficarem viradas para Meca, enquanto as casas de banho estão situadas na direcção oposta, um conceito que é aplicado na construção de mesquitas.

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