Fugas - Viagens

  • Celebrações de Ano Novo, a 1 de Janeiro 2013
    Celebrações de Ano Novo, a 1 de Janeiro 2013 Syamsul Bahri Muhammad/Reuters
  • As Petronas no horizonte
    As Petronas no horizonte Bazuki Muhammad/Reuters
  • As Petronas no horizonte
    As Petronas no horizonte Beawiharta/Reuters
  • No bairro comercial Bukit Bintang, com as Petronas no horizonte
    No bairro comercial Bukit Bintang, com as Petronas no horizonte Bazuki Muhammad/Reuters
  • O frenético mercado Petaling
    O frenético mercado Petaling Sousa Ribeiro
  • Bazuki Muhammad/Reuters
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • As grutas de Batu, importante local de culto da comunidade hindu
    As grutas de Batu, importante local de culto da comunidade hindu Sousa Ribeiro
  • Mesquita Putra, Putrajaya, perto de Kuala Lampur
    Mesquita Putra, Putrajaya, perto de Kuala Lampur Bazuki Muhammad/Reuters

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As torres prateadas que mudaram a paisagem de Kuala Lumpur

Ainda na área do lazer, as Petronas proporcionam um parque infantil no exterior que faz as delícias das crianças e não deixa os adultos indiferentes com as suas piscinas e, mais notável ainda, um aquário que pode ser observado percorrendo um túnel com 90 metros de comprimento, um mundo azul onde pontificam os tubarões-tigre de areia e enormes garoupas, entre outras espécies. 

Despeço-me do pequeno com um aperto de mão e caminho agora, virando de quando em vez os olhos para as torres, na direcção de Kampung Baru, à descoberta de um território que enche de nostalgia os locais, mesmo aqueles que se orgulham das Petronas. Percorro indolentemente esta área habitada por malaios (há também uma forte comunidade indonésia), uma atmosfera típica de uma aldeia, cheia de charme, com as suas bonitas e térreas casas de madeira, os seus jardins pequenos mas encantadores, elegantes alpendres onde a roupa seca e por trás dos quais se esconde um ou outro rosto com uma expressão amigável, próprio de quem sente prazer em viver uma vida sem agitação, deixando o tempo correr mas sem nunca o matar.

Um lema que adopto quando, agora que a manhã se esvai, me encontro no característico Chow Kit Market, lançando olhares à fruta e aos legumes, ao peixe e à carne, às roupas e aos sapatos, aos vendedores serenos e aos clientes mais apressados, um corrupio de gente por entre ruas estreitas, algumas delas cobertas com rudimentares guarda-sóis. Neste mercado, um dos mais antigos da cidade, vulgarmente apontado como o maior mercado molhado de KL — os legumes e os peixes são frequentemente borrifados com água para manterem a sua frescura — vende-se quase tudo mas se desejar, como eu, a esta hora, entre elevada percentagem de muçulmanos, uma cerveja, a resposta não será muito distinta da que eu obtive:

- Aqui não encontra. Procure nos restaurantes chineses.

Com uma garrafa de água na mão, resisto à tentação e, já com o Chow Kit para trás, passeio sem pressas até deparar com a porta de um templo à minha frente, lugar espiritual para cerca de 80 mil sikhs residentes na capital malaia, o que faz dele o maior de todo sudeste asiático.

- Seja bem-vindo.

Das mãos de um homem sorridente recebo um lenço cor-de-laranja para cobrir a cabeça.

O que se me oferece à contemplação é um verdadeiro caleidoscópio de cores e cheiros, homens com os seus turbantes, mulheres com os seus saris, de amarelo, de azul, de rosa, de verde, uma manifestação de fé e de respeito que, de tão reconfortante, permanece como a memória mais viva da experiência em KL.

- Aceite este prato e sirva-se à vontade, esta é também a sua casa, aconselha-me alguém mais jovem logo que o tempo de oração se esgota e se dá início ao almoço. E, cruzando as pernas, sentado no chão, como centenas de outros, deixo-me invadir por um sentimento difícil de descrever.


Cidade multicultural

Sirvo-me do eficiente KL Monorail para regressar ao coração da cidade e, depois, a pé, para descobrir Little India com as suas lojas de fachadas coloridas e as suas elegantes arcadas e, logo que o crepúsculo se anuncia, embrenho-me na vibrante China Town, com o seu frenético mercado Petaling, impregnado de cheiros e produtos de contrafacção. O carácter multicultural de Kuala Lumpur reflecte-se a toda a hora e o viajante pode, desde que seja essa a sua vocação, acender uma vela num templo chinês, uns minutos depois colocar um colar de flores ao pescoço num santuário hindu, logo a seguir admirar novos e antigos exemplares do Corão numa mesquita e, o que também é possível, meditar entre as paredes da anglicana St. Mary’s Cathedral, também uma criação de Norman — vale a pena admirar o interessante órgão de tubos dedicado a Henry Gurney, Alto-Comissário Britânico para a Malásia assassinado durante o período designado por Emergência (conflito que opôs colonizadores ao movimento de guerrilha liderado pelos comunistas em meados do século passado e que motivou a recolocação de meio milhão de agricultores chineses que até então viviam nas franjas da selva, na altura tomada pelos rebeldes). 

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