Fugas - Viagens

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Viagem pelo Israel mundano e cosmopolita

Depois de sairmos de Massada, dirigimo-nos até Ein Bokek, um óasis numa das margens do Mar Morto a escassos 17 quilómetros e que, depois dos tais 46 graus de temperatura, se tornou numa espécie de Terra Prometida com todo o alívio de males terrenos associados ao conceito. Ao entrar no aglomerado de prédios que destoa da planície do deserto da Judeia, um enorme símbolo amarelo e vermelho sinaliza à distância um McDonald’s. Rimo-nos por encontrar um elemento tão familiar num sítio tão inesperado, antes de perceber que abundam outras marcas similares numa área tão reduzida. Mais do que num espaço verde, estamos num oásis de consumo que serve os desejos de turistas de todo o mundo. Aliás, Ein Bokek detém o título de possuidor do multibanco instalado num ponto mais baixo do mundo, a 421 metros abaixo da superfície do mar. São o consumo e o Mar Morto que estão na essência de Ein Bokek, interligados num círculo em que umo alimenta o outro.

Ao chegarmos ao Crowne Plaza, um dos muitos hotéis que compõem a oferta deste oásis, percebemos ainda melhor a voracidade do consumo. Direccionada para famílias, esta cadeia hoteleira oferece condições particularmente aliciantes para crianças e pessoas de idade mais avançada. A unidade do Mar Morto não é excepção, com a sua piscina exterior enorme em largura, mas escassa em profundidade, e buffet abundante e variado. Com 420 quartos, tem capacidade para cerca de mil hóspedes, transformando o local numa mini-cidade onde as numerosas famílias árabes estão em destaque.

Da varanda do quarto no 12.º andar, o último, a vista derrete-nos mais do que o calor alguma vez poderia. Nas margens do Mar Morto, o sal confunde-se com a areia em camadas que alternam o bege claro com o branco cristalizado. A paleta cromática continua debaixo de água, onde o sal ganha terreno. Ao fundo, avistamos a Jordânia — e, à noite, veremos as suas luzes. Com o deserto atrás das costas, há uma neblina esbranquiçada que se estende no horizonte e faz com que o azul, e os rosas do pôr-do-sol, sejam cores desmaiadas. É um quadro que embala e impressiona na mesma medida.

O que a vista do quarto faz à alma, a água do Mar Morto reproduz no corpo. Todas as fotografias de pessoas a ler o jornal enquanto boiam dão a imagem certa de descontracção. Não é boa ideia nadar para demasiado longe — imagine ter sal nos olhos a 20 metros da costa —, nem é recomendado a crianças, exactamente pelos mesmos motivos. Estamos no ponto mais baixo da superfície da Terra, a 398 metros abaixo do nível do mar. Um sítio único onde a densidade da água e a pressão atmosférica concedem características particulares à água capazes de auxiliar no tratamento de diversas maleitas. É no Mar Morto que encontramos o Centro Internacional para o Tratamento de Doenças de Pele, em particular da psoríase, mas, de maneira geral, as pessoas procuram na lama que o rodeia algum consolo para a desidratação da pele, um mal bem mais comum e fácil de remediar.

Nunca esquecendo a recomendação de não molhar a cabeça, nem tocar nos olhos, entramos na água sentindo os grandes cristais de sal, às vezes formando blocos compactos, debaixo dos pés. A densidade da água, pesada, torna-se óbvia ao primeiro contacto. Há cadeiras convidativas dispostas na água a pouca profundidade. Experimentamo-las durante pouco tempo, enquanto a água nos ergue as pernas, antes de nos aventurarmos um pouco mais à frente. Boiar. O verbo é aqui conjugado em todas as pessoas do plural e do singular, pondo à prova o domínio do português e do equilíbrio. A força com que a água nos puxa para a superfície faz com que todos os movimentos que se fariam normalmente dentro de outro mar aqui saiam desengonçados. Por isso, não nos mexemos muito. Boiamos. Pensamos em como a sensação se assemelha ao que imaginamos ser a ausência de gravidade. Boiamos. Pensamos em como o espaço deve ser mais ou menos isto. E boiamos mais um pouco.

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