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Viagem pelo Israel mundano e cosmopolita

Por Ana Brasil

Nem Jerusalém, nem Via Dolorosa nem Muro das Lamentações: este é um percurso por outro Israel. O de Herodes e de Cesareia Marítima, do Mar Morto, do vinho com chocolate francês, e das noites de Telavive e da sua Avenida Rothschild.

Em Cesareia Marítima, Israel revela-se leve, num tom de azul claro que se confunde com o do céu. Estamos no litoral, a meio caminho entre Telavive e Haifa, e o Mediterrâneo estende-se lânguido e convidativo. Nesta cidade portuária, cujo nome é uma homenagem a César – como aconteceu com várias outras erigidas no tempo dos romanos –, é a figura de Herodes (73 a.C.-4 d.C) que surge como verdadeiramente determinante para a história da região.

À Europa cristã, o nome do rei da Judeia chega como um eco de tempos misteriosos em que a crueldade era a estratégia mais prática, levada a cabo de ânimo leve. É assim que, ao ouvir a primeira referência a Herodes, pensamos de imediato no Massacre dos Inocentes onde, de acordo com o relato da Bíblia, o rei terá ordenado a morte de todos os bebés de sexo masculino em Belém com vista a eliminar Jesus, aquele que o viria a destronar. Pouca coisa para alguém que condenaria à morte uma das suas dez mulheres, supostamente a preferida, e três dos seus 14 filhos para garantir a sua continuidade no trono.

Ainda assim, Herodes – que conduziu o destino da Judeia a partir de de 37 a.C. – foi mais do que um louco disposto a ir até às últimas consequências para ter aquilo que queria. Entre os seus muitos feitos está a construção do maior porto artificial do Mediterrâneo aqui, em Cesareia Marítima, algures entre os anos 25-13 a.C. Apesar de se tratar de um "falso rei", no sentido em que foi nomeado pelos romanos para governar a Judeia, o reinado de Herodes, o Grande é considerado frutuoso e de sucesso por muitos historiadores. E Cesareia Marítima foi fulcral para esse sucesso.

Os mais de dois mil anos de história daquele que foi o maior porto da área oriental do Mediterrâneo tornam-no um museu a céu aberto. Aqui, tanto se pode desfrutar da água quente e areia branca numa das várias praias como ver de perto os muitos artefactos que continuam a florescer, fruto desse passado naútico glorioso, e que compõem o Parque Arqueológico com as suas estátuas romanas e colunas de todos os estilos.

A mais antiga referência à Via Maris surge no Antigo Testamento, mais precisamente no Livro de Isaías. O nome, que da sua forma em latim é usualmente traduzido como O Caminho do Mar, refere-se à rota comercial marítima que ligava os antigos impérios da Anatólia, Síria e Mesopotâmia, passando pelo território que hoje pertence a Israel. A preponderância desta rota, assim como do papel que nela desempenhou Cesareia Marítima, é imprescindível para percebermos a razão pela qual a cidade foi tantas vezes tomada ao longo da história tornando-se território fértil de achados históricos.

E há a tal vista azul sem nuvens que a perturbem a prolongar-se no horizonte. Uma vista de que o próprio rei não prescindiu. Aqui, para além do porto que serviu de entrada à importação de matérias-primas, em especial o mármore, Herodes construiu um palácio no promontório ao lado do mar. As recordações desse passado estão hoje ainda muito visíveis, seja através das ruínas do palácio, cuja planta é desenhada no chão por restos da estrutura principal, seja através da grande piscina a sul do palácio, ao nível do mar que a enchia e quase olímpica em tamanho. Os ricos mosaicos que a decoravam desafiam o passar do tempo com a sua beleza irredutível.

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