O futuro é um mar oportunidades, para esta curadora de arte que agora já se vê como hotelier. “Creio que vamos continuar a brincar a encontrar possibilidades de transformação de espaços, de transferências de energias.” É uma tendência avassaladora em Amesterdão, onde, por exemplo, jantamos num dos restaurantes mais badalados do momento, o Baut, que ocupa o espaço que já foi do jornal Het Parool. É um restaurante temporário: quando abriu já tinha data de caducidade, Dezembro de 2014. Do outro lado da rua, a redacção do Trouw é agora um popular clube; e um edifício próximo, o Volkskrant, está a ser transformado em espaço criativo e hotel. O mesmo se passa com a torre Overhoeks, popularmente conhecida por torre Shell, que se ergue por detrás da estação central.
O novo bairro aquático
Há dez anos, o território onde hoje pisamos era água. Agora, em 15 minutos de comboio estamos na baixa de Amesterdão. “Porque gostamos de construir na água? Porque não temos espaço.” Pergunta e resposta de Nels van Malsen que durante alguns anos foi a responsável pelo centro de visitas de Ijburg e agora é a única guia turística certificada do novo bairro da cidade. Quando estiver concluído, serão cinco ilhas unidas por pontes, por enquanto são três — duas novíssimas, uma do século XIX que ainda permanece deserta; cada ilha leva dois anos a construir, sobre pilares de 20 metros.
Estamos na segunda, no apartamento de Nels: um prédio de poucos andares com uma particularidade — o carro fica à porta de casa. Literalmente. Um elevador estaciona as viaturas no andar do proprietário. Nas esquinas do edifício ficam os apartamentos, vidro abundante e vista sobre um mar de edifícios em tijolo vermelho (como no centro da cidade), recortado por canais estreitos com faixas de verde a acompanhar.
Com zonas de prédios e de vivendas, o desenvolvimento de cada quarteirão, com direito a espaços comerciais (o projecto não é fazer um bairro-dormitório), foi entregue a um arquitecto diferente. O resultado é, claro, heterogéneo, em cores e formas. “Queremos dar ideia de que cresceu organicamente.” Pelas ruas já se vêm vários negócios instalados e não vão faltar mais escolas, recintos desportivos, uma marina e até um cemitério.
Só não há, ainda, nada que atraia adolescentes. Para além das possibilidades proporcionadas pela água, diz-nos Theresa von Blijswoijk, habitante de uma casa flutuante — e já voltámos à primeira ilha. “Os meus filhos gostam de nadar, andar de barco, patinar no gelo e isso há. Mas não há muito mais. Têm de ir ao centro, meia-hora a pedalar.”
Theresa e a família (marido e dois filhos) conseguiram lugar para construir uma das casas flutuantes à la carte, ou seja, ao seu gosto (há outras que são como que geminadas). Foram 400 candidatos a 35 vagas. Houve liberdade, mas não total na construção das moradias, que se erguem em ruas que são ancoradouros, com cordas de aço a manterem as casas mais ou menos estáveis. As dimensões são rígidas — 10 por sete metros e “dois andares e meio” (o meio é o segundo, mezzanine e terraço, e há um menos um, a “cave”), num total de 175 metros quadrados — e é obrigatório que tenham uma pegada de carbono neutra. “Temos painéis solares, vidros especiais…”. São tão especiais que no final de Novembro ainda não necessitam de ligar o aquecimento central ou o soalho radiante — vale-lhes uma pequena lareira.