Fugas - Viagens

  • Ijburg
    Ijburg Edwin van Eis
  • Por Amesterdão
    Por Amesterdão Koen van Weel/Reuters
  •  Um eléctrico decorado com uma carruagem real
    Um eléctrico decorado com uma carruagem real Michael Kooren/Reuters
  • No canal Brouwersgracht
    No canal Brouwersgracht Michael Kooren/Reuters
  • Uma vista do Red Light District
    Uma vista do Red Light District Michael Kooren/Reuters
  • Faralda, um hotel-grua
    Faralda, um hotel-grua DR
  • O Hotel Lloyd, em baixo, nasceu para responder ao desafio de estabelecer um novo coração em Amesterdão Leste
    O Hotel Lloyd, em baixo, nasceu para responder ao desafio de estabelecer um novo coração em Amesterdão Leste HARRY VEENENDAAL
  • Restaurante Stork
    Restaurante Stork Edwin van Eis
  •  O museu do cinema/Reuters
    O museu do cinema/Reuters Michael Kooren/Reuters
  • Docas ocidentais
    Docas ocidentais DR

Amesterdão, a cidade improvável

Por Andreia Marques Pereira

É uma das cidades mais criativas do mundo e leva esse estatuto muito a sério. Quando achamos que conhecemos a capital holandesa, ela decide trocar-nos as voltas, reinventando-se, reconstruindo-se, reocupando-se.

Em Amesterdão todos os sabem: quem visita a cidade raramente sai do centro. Todos querem ver os postais ilustrados que se desenham entre canais, pontes e casas que terminam “dentadas”, todos querem ir à Praça dos Museus e perder-se entre velhos e novos mestres da pintura flamenga (e mundial), ninguém quer deixar de visitar Anne Frank (as filas para entrar na casa são uma constante) ou de espreitar as famosas coffee shops (todos sabem que pouco têm a ver com café) e percorrer o Red Light District.

O ano de 2013 foi, aliás, um marco para várias das imagens de marca da cidade e, não menos importante, o 400º aniversário do sistema de canais que continua a ser o seu eixo estruturante, a sua característica topográfica mais distintiva e talvez um dos mais representativos traços do carácter holandês. O pragmatismo com que encaram os problemas e que faz, por exemplo, com que insistam em viver em terrenos pantanosos e, nesse processo, consigam descobrir novas maneiras de ampliar o espaço disponível.

Porque se é verdade que o espaço é uma condição primária para o desenvolvimento de todas as cidades, em Amesterdão esse é um desafio constantemente confrontado com a sua natureza líquida. E a cidade quer atrair mais habitantes e não quer dormir sobre os louros de ser uma das cidades mais criativas do mundo. Quer descobrir novos caminhos para ser manter relevante e suficientemente atractiva para artistas e suas famílias.

São muitos os interesses (turísticos, demográficos, imobiliários, empresários, artísticos...) que confluem nesta encruzilhada que é dar novas caras a Amesterdão. Não será a primeira vez que é feito, não será sequer a primeira vez que o fazem aqui. Requalificam-se áreas inteiras da cidade, ensaiam-se novas arquitecturas, reocupam-se espaços e por todo o lado nascem novos conceitos hoteleiros. Em comum, a necessidade-vontade de criar novos espaços – mesmo se em muitos dos casos seja mais transformar: reinventando, reconstruindo, reocupando. Afinal, a lei de Lavoisier tem em Amesterdão um exemplo prático. E cíclico.


A Norte nada de novo

Na verdade o processo de requalificação da cidade já começou há 30 anos, recorda Mels Crouwel, arquitecto responsável pela nova ala do museu Steledijk. Quase todos os pontos cardeais da cidade já foram abrangidos e neste momento é o Norte que se vê no meio de uma revolução para despir o passado industrial e a fama “cinzentona” e tornar-se uma meca para criadores e empreendedores. Um dos novos ícones de Amesterdão pousou aqui, o Eye Film Institute, museu de cinema, e é responsável pelas multidões que agora enchem o ferry, gratuito, que une estas duas margens da cidade.

Não apanhamos o ferry, que sai da zona da estação central e leva 10 minutos a completar a travessia, mas é no Norte, em território que já foi o maior estaleiro europeu (o NDSM), que passamos muito do nosso tempo a descobrir a nova Amesterdão. “Durante muito tempo olhou-se de lado para a zona Norte”, afirma Mels Crouwel, “e dizia-se que era a sombra da cidade.

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