Fico a olhar a buseta a afastar-se, o movimento na rua, as varandas em madeira caindo sobre os passeios arranjados e, escutando sempre o marulho do rio, poucos metros tenho de caminhar para dar por mim em frente a uma simpática recepcionista que, por 15 mil pesos, me proporciona um quarto de dimensões reduzidas mas asseado, com uma pequena janela na casa de banho que me permite avistar e continuar sintonizado nos sons produzidos pelo galope das águas do Fonce.
Capital radical
San Gil, cidade com pouco mais de 50 mil habitantes, situada no departamento de Santander, cuja capital é Bucaramanga, é o lugar em todo o país que mais atrai os amantes da natureza (uma média de cinco mil por dia), uma verdadeira meca para os entusiásticos dos desportos radicais, conhecida em toda a Colômbia como “La Tierra de Aventura”.
Frequentemente denominada também como Epicentro Turístico ou Capital Turística de Santander, San Gil orgulha-se do seu estatuto de pioneira – desde 1996 – na promoção de actividades desportivas ligadas à natureza, beneficiando da sua envolvência paisagística para proporcionar aos turistas que a visitam emoções fortes que vão desde o rafting ao parapente, da espeleologia ao rapel, do canyoning ao bungee jumping, passando pelo motocross e pelos percursos em bicicleta de montanha.
A minha natureza não me confere coragem suficiente para abraçar as inúmeras propostas oferecidas pelas diversas agências de viagens com sede em San Gil e, olhando da minha minúscula janela, aprecio o rumor das águas como música para os meus ouvidos mas percorre-me um imenso calafrio só de imaginar uma descida de dez quilómetros ao longo do Fonce ou, o que me parece ainda temível, uma aventura nos rápidos do rio Suarez, ironia das ironias correndo nas proximidades da aldeia de Socorro, a escassos vinte quilómetros de San Gil.
- O que acha do quarto?
A primeira impressão, ainda no bar do terminal, começa a desvanecer-se mal regresso ao átrio da recepção e desaparece completamente à medida que caminho pela rua, subindo a Calle 12, onde me detenho numa casa de câmbio antes de cortar para a Calle 10, ao encontro do El Maná, com o seu tecto de pé alto, as suas colunas de música, uma sala que de tão comprida se assemelha a um refeitório e onde a qualidade da comida rivaliza com a simpatia que me dispensa Majerli, com os seus olhos cor de avelã sempre perscrutadores.
- Tienes que irte a Barichara! El pueblecito más bonito de Colombia!
À saída para a rua, surpreende-me uma chuva miudinha, persistente, que me convida a entrar no Habana, no primeiro piso de um centro comercial restaurado com requinte. Não o descubro de forma espontânea, limito-me a seguir mais um dos conselhos de Majerli, sentindo-me esmagado de gratidão com uma cerveja Poker bem gelada e com a música cubana que escuto enquanto lanço olhares à minha volta e outros tantos, mais compenetrados, a um livro de Gabriel Garcia Márquez que me acompanha nos momentos em que a solidão me rodeia de um modo pungente. Uma frase, “o coração tem mais quartos do que uma pensão de putas”, fica a martelar-me o cérebro quando Majerli, já com o cabelo solto, faz a sua aparição e, educadamente, me pede licença para se sentar.