Fugas - Viagens

  • A pequena aldeia de Guane parece adormecida no passado
    A pequena aldeia de Guane parece adormecida no passado
  • As ruas silenciosas de Barichara
    As ruas silenciosas de Barichara
  • As árvores com
    As árvores com "barbas de viejo" que se vêem um pouco por todo o lado
  • San Gil
    San Gil
  • A imponente Catedral de Santa Cruz domina o Parque La Libertad, em San Gil
    A imponente Catedral de Santa Cruz domina o Parque La Libertad, em San Gil
  • A Catedral da Imaculada Conceição recorta-se por cima de telhados uniformes
    A Catedral da Imaculada Conceição recorta-se por cima de telhados uniformes
  • A cascata de Juan Curi, impressionante queda de água de uma altura de 200 metros
    A cascata de Juan Curi, impressionante queda de água de uma altura de 200 metros
  • A cascata de Juan Curi, impressionante queda de água de uma altura de 200 metros
    A cascata de Juan Curi, impressionante queda de água de uma altura de 200 metros

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Colômbia, um puzzle perfeito de adrenalina e descanso

As nuvens fundem-se com os montes, com a vegetação, por ali fico, ébrio de satisfação, escutando o borbulhar da corrente, a magnificência de um quadro de cores tão vivas, sentado numa das rochas que bordeja as pequenas lagoas onde dá vontade de entrar para sentir o contacto com a água que, através de lençóis de borrifos, jorra sobre o meu rosto.

À boleia, com um polícia, regresso a San Gil a meio da manhã, a tempo de apanhar outra buseta, agora com destino a Barichara, aclamada por Majerli e tantos outros milhões de colombianos como a vila mais encantadora do país, o que aumenta exponencialmente as minhas expectativas à medida que os campos agrícolas ficam para trás e se avistam a cúpula e as torres sineiras da igreja, encimadas por nuvens que parecem feitas de algodão, como se alguém ali as tivesse colocado para conferir ainda mais bucolismo ao lugar.

Formigas ao almoço

Deixo-me ficar na praça principal, vendo os meninos a jogar à bola enquanto são observados pelas meninas, todos nos seus trajes escolares, o verde predominando, e mais para diante um grupo de adultos, homens e mulheres, que se entregam com prazer a uma aula de aeróbica sob um céu que, aos poucos, vai abrindo as suas cortinas para deixar ver o azul. À volta, reina o silêncio, apenas perturbado pelos passos tranquilos de turistas espanhóis, franceses, holandeses e, em maior número, de colombianos. Maria Leandra Valentina vem de Medellin e não esconde o orgulho que sente naquela povoação que, como se estivesse num museu, mostra a um casal de Rouen, amigos de longa data.

- Nada me dá mais prazer do que revisitar Barichara. E como fico feliz por poder fazê-lo nestes tempos de paz. A Colômbia é um país lindíssimo, é um paraíso na terra, mas é preciso ter sempre cuidado.

Decido-me a errar por estas ruas empedradas, tão limpas e tão inspiradoras, com as suas casas imaculadamente brancas, decoradas com janelas de madeira de cores fortes, com os seus telhados uniformes, tão bem conservados que ninguém desconfia da sua longevidade de 300 anos, num tempo em que, como tantos outros lugares, foi colonizada pelos espanhóis. Considerada monumento nacional desde 1978, Barichara é um dos cenários preferidos para a filmagem de telenovelas, um povoado que vive no passado e onde, durante muitas horas do dia, o turista sente dificuldade em cruzar-se com alguém nas suas artérias repletas de histórias e lendas.

Uma delas, remontando a 1702, fala de um lavrador a quem apareceu, em cima de um rochedo, na sua quinta, a Virgem Maria. Verdade ou não, os locais mandaram erguer uma pequena capela para comemorar o milagre e, estranhamente ou talvez não, apenas precisaram de esperar três anos para receberem uma nova aparição, a do capitão espanhol Francisco Pradilla y Ayerbe que logo fundou a Villa de San Lorenzo de Barichara, designação que deriva da palavra guane barachalá, “um bom lugar para descansar”.

E é de repouso, antes de continuar a percorrê-la, que sinto urgência, rumando à Calle 8 para um almoço no Color de Hormiga, disposto a provar uma especialidade cuja tradição remonta a mais de 500 anos, quando o povo indígena guane, convicto do seu poder afrodisíaco e das suas propriedades curativas, devorava formigas gigantes. E, embora pouco crente nestes poderes, dou-me por muito satisfeito quando o meu filet mignon chega à mesa, decorado, por cima de um molho, com um bom número de formigas estaladiças que acompanho com um copo de vinho enquanto perscruto as reacções dos poucos clientes que me acompanham, a curta distância, nesta iguaria gastronómica, à venda em diferentes lugares de Barichara mas sem a qualidade do Color de Hormiga.

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