Portugal. Coimbra e Alcobaça
Pedro e Inês
Faz parte da mitologia portuguesa a história de D. Pedro e daquela “que depois de morta foi rainha”, Inês de Castro. Quem não conhece o amor de Pedro e Inês? Um amor sem limites que venceu a morte. Esta é a versão romântica que a literatura eternizou nos últimos séculos transpondo fronteiras — obras sobre Pedro e Inês, poesia, teatro e romance, foram produzidas em países como a Argentina ou Alemanha, Estados Unidos ou Itália, sem esquecer Espanha e, claro, Portugal, onde os pináculos continuam a ser o “Episódio de Inês de Castro”, em Os Lusíadas, e A Castro, obra magistral do teatro clássico português; e que continua a servir de inspiração a muitos. Afinal, não faltam os ingredientes para fazer deste episódio real uma história intemporal: amor superlativo, luta de poder, inveja, intriga, traição, morte, vingança — e talvez até redenção.
Foi em Coimbra que Pedro e Inês viveram o seu amor e a sua tragédia, depois da separação forçada por razões de estado. Porque se Pedro logo se apaixonou por Inês, dama do séquito da sua prometida, D. Constança de Castela, tudo foi feito para manter os dois amantes separados. Apenas depois da morte de D. Constança Inês voltou do exílio, tendo-se instalado com D. Pedro em Coimbra, no Paço da Rainha Santa, junto ao Convento de Santa Clara-a-Velha. Foi aqui, “nos saudosos campos do Mondego”, escreveu Camões, no antigo couto de caça da família real, de que hoje é herdeira a Quinta das Lágrimas, que ambos viveram e Inês morreu. Nos seus jardins, a Fonte dos Amores, para além da porta em ogiva e janela do século XIV, e a das Lágrimas permanecem como testemunhos do amor e da tragédia — nesta última, as algas encarnadas são, segundo a tradição, sangue de Inês.
Ali terá sido assassinada a mando de D. Afonso IV, pai de D. Pedro, aproveitando a ausência deste numa caçada. Foi enterrada no Convento de Santa Clara, mas não permaneceu aí. Depois de ascender ao trono, D. Pedro, a que a história deu os cognomes de Cruel ou Justiceiro, ordenou a execução (com requintes de crueldade) dos seus assassinos, revelou o seu casamento secreto (e improvável) com Inês, coroou-a rainha de Portugal e trasladou-a em procissão fúnebre para o Mosteiro de Alcobaça. Aí, encontra-se uma obra-prima da tumulária gótica europeia: o conjunto monumental das arcas tumulárias de Inês e de Pedro, frente a frente, para que quando acordassem no além a primeira visão fosse o rosto do ser amado. “Tu só, tu, puro Amor, com força crua/Que os corações humanos tanto obriga…”.
Itália. Verona
Romeu e Julieta
Fazem parte da cultura popular há séculos como protagonistas da maior história de amor de sempre, todos os anos celebrada: o livro nunca deixou as livrarias; nos palcos, dá a volta ao mundo várias vezes; no cinema é motivo recorrente. De Verona chegou-nos a história do jovem Romeu e da sua bela Julieta cuja versão canónica foi estabelecida pelo inglês William Shakespeare, no final do século XVI.
Não importa que as provas da existência de ambos sejam ténues. O certo é que a “varanda da Julieta” é o ex-líbris turístico da cidade do Norte de Itália. E isso quer dizer muito numa cidade que tem, por exemplo, o segundo maior coliseu romano em território italiano, ainda hoje palco de espectáculos, e onde Júlio César gostava de descansar. E que impressiona pelo conjunto edificado, onde se acompanha a transição entre o gótico e a renascença — paradigmático, o Arche Scaligere, monumental complexo funerário dos Scaligeri, a família veronesa mais poderosa da Idade Média, junto da igreja Santa Maria Antica, é imperdível.