O tabuleiro inferior da ponte Luiz I é atravessado com maldições aos carros que passam e à estreiteza dos passeios onde se cruzam com outros turistas, máquinas fotográficas em punho. A encosta da Ribeira começa a desvendar-se e é para aí que os olhares se voltam — e para o rio que se perde em curva adornada pelo casario. Na margem de Gaia,
- Já não estamos no Porto,
alerta Ligia,
é o Porto que primeiro se mira.
- Gosto de cores e misturas e todos os edifícios são tão perfeitamente imperfeitos,
diz Amparo, olhar perdido nos telhados indisciplinados, fachadas que são puzzles, estreitas, largas, coloridas de pedra. “Que torre é aquela?”, aponta para os Clérigos onde o vale parece encontrar o seu zénite.
À beira-rio são os barcos-rabelo que prendem a atenção, não os grandes hotéis fl utuantes. “Estes transportavam o vinho, não era?”
— “Agora são só para turista ver.” A caminhada não se detém à porta das caves, o teleférico suscita apenas curiosidade. A fome fala mais alto e o regresso ao lado do Porto tem um objectivo bem definido. Comer uma das famosas francesinhas, que Marcela esteve a “vender” aos amigos; Ligia prefere um chouriço assado — “que aqui trazem para a mesa para cozinharmos”. Os finos são já uma unanimidade e Super Bock a marca reconhecível.
A tarde prepara-se numa mesa da Ribeira, aquecedor ligado. “Há um mercadinho de rua no centro”; “e podemos ir à livraria Lello”; “e aquela loja?...”. Ligia e Marcela lançam os dados. O caminho feito é o mais longo — subida até à Estação de São Bento, azulejos portugueses à mistura.
- Azuis e brancos, têm-nos por todo o lado, não repararam?,
é Ligia a mais entusiástica. Há-de apontá-los nas fachadas de várias igrejas. Na Praça da Liberdade, aos pés dos Aliados, mais memórias. Amparo recorda que ficou alojada aqui perto, “atravessava sempre esta ‘praça’”; Marcela e Ligia lembram um concerto de um edifício para a rua, “a bateria numa varanda, o guitarrista noutra…”, e uma dança desenfreada ao som de um “punk moderno”. As reminiscências levam Marcela mais longe,
- O Porto tem as melhores coisas de uma cidade grande numa cidade pequena. É uma cidade de contrastes. De dia é tradicional, com todas as características culturais de Portugal, restos do passado; à noite é cosmopolita, moderna, com os bares e restaurantes como se estivéssemos em Londres.
Não é a primeira nem será a última referência inglesa. Na livraria Lello — “a mais bonita do mundo”, Ligia é o guia turístico —, o espanto com a quantidade de gente que enche o espaço — “não dá sequer para apreciar. Como é que alguém consegue fazer compras?” — e identificação de uma “atmosfera britânica”. A mesma que vêem nas cabinas telefónicas. Muitas fotos e publicações no Facebook — “Não estou em Londres”, escreve Elena.
A Torre dos Clérigos e o Centro Português de Fotografia merecem olhares apreciativos, e o novo Passeio dos Clérigos admiração, não tanto pelas lojas como pelo jardim, relvado e povoado de oliveiras que lhe serve de cobertura, “no contraste com os edifícios em volta”, nota Elena.