Fugas - Viagens

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Las Vegas e Vale da Morte, as duas caras do deserto americano

Às armas e ao jogo

Estar em Las Vegas e não jogar deve estar para o adágio mais comum “ir a Roma e não ver o Papa”. E, tendo em conta que, fora umas apostas no Euromilhões, umas idas ao Bingo, o Loto a feijões com os avós ou um king com os amigos, nunca tinha jogado, depressa concluí que Las Vegas seria o sítio ideal para me estrear nos casinos. No entanto, acabaria por deixar a investida para a recta final e já depois de visitados os outlets e com prendas para os miúdos na bagagem de volta.

A slot tinha uma sereia desenhada no topo e aceitava apostas a partir de um dólar que davam direito a uma mão-cheia de tentativas. E logo da primeira vez em que puxei a alavanca, o dólar transformou-se em um dólar e 75 cêntimos. O ticket cuspido pela máquina e guardado religiosamente serve de prova.

A ida ao Silverton Hotel & Casino tinha como objectivo almoçar. Não hambúrguer, como durante quase toda a viagem. Mas salmão grelhado – bastante recomendável, garanto –, sendo que a refeição, sem sobremesa e com bebida, fica por pouco mais de 10€. Mas a incursão depressa se transformou numa visita turística com uma vertente quase antropológica.

O casino, cuja entrada é marcada por um gigantesco aquário com peixinhos de várias cores e formas, esconde uma gigantesca loja de artigos para caça, pesca e armas, com divertimentos incluídos. Casos de um tanque para a prática de pesca desportiva, de um recanto para o tiro ao alvo com luz – não acertei em nenhum – ou salas para a prática de tiro com munições reais. Mas para as usar há que levar a própria arma e munições. E essas são de guardar: “Desde que o senhor de pele castanha”, diz o homem que está atrás do balcão e que claramente não depositou o seu voto em Obama, enquanto passa com os dedos de uma mão pelas costas da outra, “está na Casa Branca que as pessoas passaram a guardar tudo em casa”. Um pouco por todo o lado da loja se encontram frases que defendem o armamento dos cidadãos, assim como o seu direito em usá-lo.

Mas o sentimento anti-Obama não é um exclusivo daquele homem que culpa o actual Presidente pela falta de clientes nas suas salas de tiro. São visíveis, aqui e ali, em pequenas observações, as formas de estar tão distantes de Washington que, afinal, fica “apenas” a quatro mil quilómetros de carro – os mesmos que teríamos de percorrer de Lisboa a Minsk, capital da Bielorrússia. Afinal de contas, isto não é só um país; é quase um continente. E a imensidão toma conta de nós assim que trocamos a confusão da malha urbana pela quietude do deserto.

A passo de caracol

Estamos ainda praticamente no início do Vale da Morte, uma depressão a norte do deserto de Mojave, que, ao longo de mais de 200km, marca a fronteira entre os estados da Califórnia e do Nevada. A zona é tão conhecida pelas altas temperaturas – que, no Verão, já atingiram os 57º C (valor registado a 10 de Julho de 1913 e que mantém o estatuto do segundo mais alto registado até hoje) – como, mostram-nos as placas e avisam-nos os locais em Furnace Creek, onde paramos para almoçar (um hambúrguer, claro!), pelas inundações instantâneas (flash floods). Uma destas, em 2013, deixou a estrada que passa em Badwater, uma das atracções do local, intransitável durante meses. E, em Agosto de 2004, uma tempestade foi inclusive a causa da morte de duas pessoas, destruindo a estrada que liga o Vale da Morte a Las Vegas – a chuva acabou por exigir obras de oito meses que se saldaram em cerca de dez milhões de dólares.

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