Fugas - Viagens

  • Carla B. Ribeiro
  • Miguel Madeira
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Las Vegas e Vale da Morte, as duas caras do deserto americano

A ida, já no fim de Janeiro, é porém garantia de que não seremos nem apanhados por um temporal súbito – embora, registe-se o espanto (nosso e do taxista que nos conduzia) quando fomos brindados com chuva no último dia em Las Vegas – nem teremos de lidar com temperaturas insuportáveis.

No lugar disso, a viagem traz um ligeiro sabor a Verão ameno, com o sol a aquecer não só o corpo como o espírito. A manga comprida dá lugar às alças e não tarda que se esteja a proteger a cabeça dos raios mais violentos – ou assim parecem para quem há menos de 24h lidava com o céu cinzento que, no fim de Janeiro, parece ter transformado Lisboa numa capital da Europa Central.

A ideia de aproveitar o período de um dia de descanso para, de carro alugado, dar um salto ao Vale da Morte, que um parceiro das escritas havia descrito como “do outro mundo”, era demasiado aliciante para que me deixasse desmoralizar por um qualquer “mas isso leva muito tempo”. E foram vários.

Afinal, o que os vários sites de tráfego me diziam era que, de Las Vegas a Furnace Creek, onde se pode encontrar o Centro de Interpretação do parque, eram menos de 200km, distância que, nos meus cálculos, levaria, na pior das hipóteses, umas duas horas e meia a percorrer. Já com paragem pelo meio para um café (água quente com ligeiro sabor a café).

Aquilo que não contabilizei: a real possibilidade de, qual cogumelo, aparecer um carro da polícia do nada, sendo que as multas de excesso de velocidade podem ser tudo menos meigas. Além do mais, acreditem, depois de perceber que se está em pleno faroeste americano a vontade de alguém se ver em qualquer incidente com as autoridades é diminuta.

Por isso, a partir do momento em que me sento ao volante, as velocidades máximas são para cumprir. O que nem é um problema nos primeiros quilómetros de auto-estrada, em que o limite são as 65 milhas por hora (mph), isto é, cerca de 100km/h. Mas à medida que se entra cada vez mais pelas montanhas, que parecem fazer cerco a Las Vegas e que servem de porta de entrada para o Vale da Morte, os limites tendem a ser cada vez menos máximos e mais mínimos. Até nos vermos obrigados a seguir à velocidade cruzeiro de 35mph (55km/h).

No entanto, também há a possibilidade de acelerar até onde o carro que se seguir for capaz: no Las Vegas Motor Speedway, onde se consegue ter uma brincadeira por preços terrestres e, ao mesmo tempo, minimizar a frustração de ter de lidar com as velocidades tão limitadas nas estradas.

Mas deixemos as velocidades para as pistas. Já no regresso do Vale da Morte passaríamos por uma pequena localidade, onde no lugar do letreiro de “boas-vindas” estavam outros dois: um que avisava a existência de uma “Neighbourhood Watch” (Vigilância de Vizinhos), acrescentando um assustador “We're watching you” (qualquer coisa como “Estamos de olho em si”); outro a indicar a velocidade limite de 25mph.

Só tínhamos de percorrer uns 4km e parar numa bomba para abastecer. Mas a única coisa que me passava pela cabeça era um “quero sair daqui”. Era o carro do xerife a passar lentamente ao nosso lado; o senhor agente na bomba de gasolina de mão no coldre e a medir-nos de alto a baixo; a mulher na caixa da bomba que não compreendia o facto de nenhum de nós saber quantos galões levava o depósito daquele carro. Naquele instante nem calcular galões (a memorizar: um galão equivale a 3,78 litros). E, quase, quase à saída, um radar na berma com mais um carro das autoridades parado à espera que alguém se atrevesse. Escusado será dizer que aqui, como se lia naquela placa à venda na loja de caça, pesca e armas, “não há tiros de aviso”.

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