Fugas - Viagens

  • Carla B. Ribeiro
  • Miguel Madeira
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Las Vegas e Vale da Morte, as duas caras do deserto americano

Há ainda outro detalhe que faz com que a viagem demore mais tempo do que inicialmente prevíramos. Quase que de dez em dez quilómetros alguma coisa nos leva a parar ou, pelo menos, a abrandar. Seja a dimensão do horizonte, a planície branca (de sal) a perder de vista ou os vários pontos de interesse que, mesmo sem muito interesse, nos levam a travar a marcha. Outros, porém, que à distância se assemelhavam a apenas mais um amontoado de terra, conseguem arrancar-nos alguns sons de surpresa.

Entre a arte e o inferno

O vale por que tanto ansiávamos e que se assemelha mais a uma vasta planície entre duas correntes de montanhas está por fim diante de nós. Sem fim à vista, vamos percorrendo uma estrada estreita que ora nos leva até ao centro da depressão, ora nos obriga a regressar para junto do sopé do conjunto de montanhas negras que se desenham à nossa esquerda.

Todas as curvas são iguais quase ao milímetro. E, ao fim de cinco ou seis vezes, este traçado serpenteante apenas serve para nos aumentar a sensação de não haver fim à vista. Pelo menos uma coisa conseguimos pelo caminho: compreender o porquê de tal nome.

“Imaginam alguém percorrer este vale a cavalo?”, pergunta um colega no banco de trás. É, de facto, difícil de imaginar. E a morte deveria ser o destino mais certo para quem desafiasse a agrura com que a natureza se veste. É que a água até que existe, mas os níveis de sal devem ser tão altos que bebê-la provavelmente apenas colocaria o viajante um passo mais perto da morte.

Se a imagem nos agride nesta altura em que as temperaturas não ultrapassam os 25ºC, a realidade deveria ser o inferno na terra durante os meses mais quentes. Muito apropriadamente uma das zonas foi baptizada de The Devil's Golf Course (numa tradução literal, O Campo de Golfe do Diabo). Trata-se de um mar revolto de sal, cujas tonalidades castanhas daquele composto cristalizado contrastam com a alvura que antes tínhamos testemunhado junto a Badwater, o ponto mais baixo de toda a América do Norte, a 86m abaixo do nível do mar, que chegou a ser considerado até o mais baixo de todo o hemisfério ocidental – Laguna del Carbón, na Argentina, a 105m abaixo do nível do mar, acabaria por lhe surripiar o título.

Uma curiosidade: Badwater dá também nome a uma das mais esgotantes maratonas que é percorrida anualmente em meados de Julho. São mais de 217km, desde a bacia homónima até Whitney Portal, no Monte Whitney, a 2548m acima do nível do mar. Dupla curiosidade: em 2013 foi o português Carlos Sá que se sagrou campeão.

Mas voltemos ao campo de golfe que, dizem, se o fosse de verdade apenas poderia ser usado pelo próprio Satanás e que da estrada não se vê. O tempo urge, a fome aperta, e ainda ponderamos não arriscar perder mais minutos em algo que, ao longe, nos parece muito pouco atractivo. Mas já viráramos costas à Natural Bridge Canyon que nos obrigaria a mais de 10km por estrada batida e a vontade de deixar coisas por ver não era muita. Por isso, com apenas cerca de um quilómetro de mau caminho, optamos pelo desvio.

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