Fugas - Viagens

  • Carla B. Ribeiro
  • Miguel Madeira
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Las Vegas e Vale da Morte, as duas caras do deserto americano

Da mesma maneira também não demorou muito tempo entre o momento em que foi abandonada e a altura em que começou a ser atracção turística. Sobretudo após ter sido estrela em vários filmes, ainda no tempo do mudo, como foi o caso de The Air Mail (1925), de Irvin Willat.

Mas os fantasmas chegaram mais tarde, com o artista belga Albert Szukalski que, em 1984, criou a escultura A Última Ceia, uma reprodução fantasmagórica da obra de Leonardo Da Vinci, em tamanho humano, cuja criação consistiu em moldar modelos vivos, criando uma espécie de capas que hoje, antes da entrada da cidade, vão sendo “vestidas” pelos visitantes na foto para a prosperidade.

À volta, outras esculturas marcam o ambiente. Sobretudo uma que, com uma série de objectos pendurados, desde colheres até caricas, compõe uma banda sonora tão mais interessante se o vento estiver a favor. Não era o caso. E os ruídos não eram suficientemente audíveis para que provocassem o efeito desejado: arrepios. Mais sucesso teria um sinal a aconselhar cuidado dada a possível presença de cobras no local. Até que podia ser como aqueles sinais que avistamos pelas estradas portuguesas de que a qualquer momento poderá atravessar-se no nosso caminho um veado, mas que, arrisco, raros são os que conhecem alguém que já tivesse tido a experiência. Mas, sabendo da existência de uma espécie venenosa nesta região norte-americana, a cascavel, o melhor é não arriscar nenhum encontro indesejado.

Prosseguimos estrada acima em direcção ao coração do que já foi uma cidade. Hoje, são apenas ruínas. Estruturas, outrora imponentes, à espera do dia em que irão por fim desabar. Pela estrada cruzamo-nos com outros visitantes que, embora assombrados, deverão sair com a mesma desilusão: ninguém ouviu a voz de um tio ou de um avô. Nem na imaginação.

Mas para o que não tínhamos a imaginação preparada era para o encontro imediato, real e repleto de adrenalina, que mais nos marca toda a memória da viagem.

Subitamente, a meio caminho da entrada do deserto, no meio do nada, aparece-nos o bicho. Num movimento brusco, estanco o carro, engato marcha-atrás e paro no meio da estrada que, depois de muitas milhas percorridas, parecia não ter fim. Tratava-se de um canídeo que ainda demorámos uns segundos a identificar – não que os nossos conhecimentos zoológicos sejam assim tão maus, mas a surpresa foi tanta que ainda nos custou a processar a sua aparência.

Lá fomos fazendo contas, em voz alta ou para os nossos botões: “Lobo, definitivamente, não é”. Para raposa, não era difícil de observar, faltava-lhe a graciosidade e aquele focinho pontiagudo que a caracteriza. E, para mabeco, além de estarmos longe das suas regiões originárias, era demasiado bonito. Por fim, faz-se luz: um coiote. Ali, mesmo à nossa frente. E, aparentemente, muito interessado na nossa existência.

Ao mesmo tempo que nos ia rodeando, uma e outra vez, sem parecer nem assustado connosco nem tão-pouco agressivo, fomos registando o momento. Câmaras fotográficas em registo amador, iPhones sedentos por um pouco de rede para mostrarem aos amigos "o" momento do dia. Pela janela, e incapazes de conter o entusiasmo, íamos tentando apanhar o bicho de todos os ângulos possíveis.

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