Fugas - Viagens

  • Budva é um lugar emblemático do turismo de sol e praia, com uma vida nocturna que parece não ter fim; por seu lado
    Budva é um lugar emblemático do turismo de sol e praia, com uma vida nocturna que parece não ter fim; por seu lado STEVO VASILJEVIC/REUTERS
  • Sveti Stefan, com as suas casinhas de pedra pequenas e arranjadinhas, poderia servir de cenário para as Viagens de Gulliver
    Sveti Stefan, com as suas casinhas de pedra pequenas e arranjadinhas, poderia servir de cenário para as Viagens de Gulliver STEVO VASILJEVIC/REUTERS
  • Crna Gora
    Crna Gora ALAN COPSON/REUTERS
  • Kotor
    Kotor
  • Perast, na base da colina de Santo Elias, e com as suas casas ancoradas na baía, é o perfeito postal ilustrado; em baixo, nova perspectiva de Crna Gora
    Perast, na base da colina de Santo Elias, e com as suas casas ancoradas na baía, é o perfeito postal ilustrado; em baixo, nova perspectiva de Crna Gora ALAN COPSON/REUTERS

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Tantas e tão desconhecidas são as jóias do Montenegro

- É uma cerimónia muito interessante que acontece todos os anos, desde 1452, no dia 22 de Julho, pouco antes do pôr do sol. Os barcos, carregados de peregrinos e enfeitados com ramos de choupos, percorrem a distância entre Perast e a Gospa od Skrpjela em fila indiana, transportando o maior número possível de pedras que lançam à água nas imediações da ilha. Apenas os homens, descendentes de famosos navegadores, altos dignatários da vila, cantores e remadores, acompanhados do padre, podem tomar parte nesta tradição ancestral, destinada a cumprir as promessas dos seus antecessores, enquanto as mulheres e as crianças se perfilam ao longo da margem acenando aos fiéis que cumprem o trajecto ao som da Bugarstica.

A Bugarstica é uma balada poética épica que, até ao século XVIII, gozava de grande popularidade entre sérvios e croatas, uma tradição oral cuja existência é anterior ao século XV e que relata a história de grandes batalhas e de outras em menor escala, tendo por palco Perast e a baía de Kotor, bem como de eminentes figuras do feudalismo de entre os séculos XIV e XVI, da Sérvia, da Hungria, da Croácia e da Bósnia.

- É um dia especial na baía, uma festa à qual se juntam habitantes de lugares vizinhos, como Kostanjica, Stoliv, Strp e Durici, entre outros. Quando os barcos se aproximam da ilha, ouvem-se as badaladas do sino, dando as boas-vindas aos peregrinos que, de forma entusiástica, continuam a entoar os seus cânticos. Depois, já na igreja, reza-se o terço. No passado, após a celebração religiosa, era servido um modesto jantar composto de pão, cordeiro assado, queijo e salada, mas essa prática foi abandonada há já alguns anos.  

A vizinha Sveti Dorde

O padre, de nacionalidade italiana, regressa ao interior da igreja e eu, mudo, sem o perturbar, sigo-lhe os passos, não sem antes admirar o bonito pórtico da fachada com um frontispício e uma pequena estátua da padroeira com uma aparência arcaica. Existem documentos que comprovam a existência de uma estrutura religiosa neste lugar desde finais do século XV mas a Gospa od Skrpjela, um dos mais importantes memoriais culturais da baía, foi erguida em 1630, com ampliações mais ou menos frequentes, uma vez que a ilha tem avançado sobre as águas ao longo de mais de quatro séculos de história. Já no interior, sob um silêncio sepulcral, planto olhares no tecto e nas paredes, nos frescos e nas quase sete dezenas de pinturas a óleo em tela que retratam cenas da vida de Nossa Senhora e outras, a um nível inferior, do Velho Testamento e dos Antigos Profetas, todo um misticismo que, ainda assim, me faz sentir mais numa galeria de arte do que numa igreja. As obras, algumas da autoria de Tripo Kokolja, um discípulo da escola veneziana e nativo da baía de Kotor, outras de grandes mestres do Barroco, estão misturadas com pratos de prata que mostram, em relevo, os barcos doados pelos navegadores locais sempre que partiam para o mar, em sinal de gratidão para com a padroeira que, estivessem eles onde estivessem, se encarregava de os proteger.

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