Fugas - Viagens

  • Budva é um lugar emblemático do turismo de sol e praia, com uma vida nocturna que parece não ter fim; por seu lado
    Budva é um lugar emblemático do turismo de sol e praia, com uma vida nocturna que parece não ter fim; por seu lado STEVO VASILJEVIC/REUTERS
  • Sveti Stefan, com as suas casinhas de pedra pequenas e arranjadinhas, poderia servir de cenário para as Viagens de Gulliver
    Sveti Stefan, com as suas casinhas de pedra pequenas e arranjadinhas, poderia servir de cenário para as Viagens de Gulliver STEVO VASILJEVIC/REUTERS
  • Crna Gora
    Crna Gora ALAN COPSON/REUTERS
  • Kotor
    Kotor
  • Perast, na base da colina de Santo Elias, e com as suas casas ancoradas na baía, é o perfeito postal ilustrado; em baixo, nova perspectiva de Crna Gora
    Perast, na base da colina de Santo Elias, e com as suas casas ancoradas na baía, é o perfeito postal ilustrado; em baixo, nova perspectiva de Crna Gora ALAN COPSON/REUTERS

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Tantas e tão desconhecidas são as jóias do Montenegro

Uma visita que me faz sentir uma enorme vontade de ver o mar, onde me quedo até que as luzes da cidade se espelhem nas águas do Adriático, tornando ainda mais bela esta verdadeira jóia do Montenegro.

Majestoso Ostrogh

Correm uns fiapos de nuvens pela abóbada do mundo quando, ao fim de 17 quilómetros e de um número de curvas – cada uma com uma panorâmica mais soberba do que a outra sobre a baía de Kotor – que não me cansei a contar, me sinto mais próximo do céu, como se o padre António continuasse a acompanhar-me, vendo nesse o momento ideal para me deter e por ali permanecer uns bons minutos com os olhos postos nas fortificações (para quem gosta de números são 1350 escadas) e na cidade namorando as águas de um azul intenso. O monte Lovcen, com os seus quase 1800 metros, sobe ainda mais, representa toda uma nação, está no coração dos montenegrinos, a ele se deve o nome do país – é a montanha negra, a Crna Gora, e crna significa preto e gora quer dizer monte.

De volta à estrada, não tardo a fazer uma nova escala.

- Gostas do queijo?

Dirijo-me à bagageira do carro, retiro uma garrafa de vinho comprada na Bósnia-Herzegovina e convido Vesko Paraca para me acompanhar. Ele afasta-se e entra na sua cabana feita de finos troncos de árvore, a porta funcionando como um alçapão, um telhado de chapa. Duas placas de madeira ladeiam uma janela onde se reflecte o verde da natureza que nos abraça naquele lugar perdido na montanha. Numa pode ler-se: Dobro nam dosli e eu sinto que sou bem-vindo; na outra, bife, pod, bukvom, que não ouso questionar. À volta, nem uma casa, nem um ruído, apenas um ou outro carro cruzando o asfalto. Vesko Paraca, com a sua camisa às flores, regressa para se sentar ao meu lado, bancos e mesa também de madeira, tudo muito rudimentar. Pousa um prato sobre a mesa.

- Prova, é presunto, vais gostar.

E levanta o copo, deixando que o sol lhe confira uma tonalidade menos carregada.

- Zivjeli.

E eu brindei à saúde dele.

- Zivjeli.

Sozinho, neste recanto do mundo, tão contrastante com a costa montenegrina, Vesko Paraca sente-se feliz, ouvindo os pássaros e atendendo, de longe a longe, um ou outro cliente. Não fosse a necessidade de me fazer à estrada por ali teria ficado, com prazer, bebendo a outra garrafa de vinho que ainda tinha, comendo queijo e presunto.

Se este momento, pela espontaneidade, me fica gravado na memória, a tarde desse mesmo dia proporciona-me uma das imagens mais marcantes em toda a viagem pelo Montenegro. Entalada nas rochas que caem na vertical, douradas pelos raios solares, a fachada de um branco quase imaculado – pelo menos à distância – do Mosteiro de Ostrogh, uma aparição dramática que nos transporta para lugares como o Tibete ou Ladakh, na Índia, tantas são as semelhanças com alguns dos templos que se erguem nesses lugares recônditos. Construído no século XVII por São Basílio, um bispo da Herzegovina altamente venerado pelos sérvios ortodoxos, e de longe o lugar mais sagrado do país, o mosteiro, vulgarmente designado como o milagre de São Basílio, recebe mais de um milhão de peregrinos por ano e, se a sua fachada é majestosa, o interior é de uma grande simplicidade, com grutas originais cobertas de frescos pintados nas rochas.

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