Fugas - Viagens

  • Budva é um lugar emblemático do turismo de sol e praia, com uma vida nocturna que parece não ter fim; por seu lado
    Budva é um lugar emblemático do turismo de sol e praia, com uma vida nocturna que parece não ter fim; por seu lado STEVO VASILJEVIC/REUTERS
  • Sveti Stefan, com as suas casinhas de pedra pequenas e arranjadinhas, poderia servir de cenário para as Viagens de Gulliver
    Sveti Stefan, com as suas casinhas de pedra pequenas e arranjadinhas, poderia servir de cenário para as Viagens de Gulliver STEVO VASILJEVIC/REUTERS
  • Crna Gora
    Crna Gora ALAN COPSON/REUTERS
  • Kotor
    Kotor
  • Perast, na base da colina de Santo Elias, e com as suas casas ancoradas na baía, é o perfeito postal ilustrado; em baixo, nova perspectiva de Crna Gora
    Perast, na base da colina de Santo Elias, e com as suas casas ancoradas na baía, é o perfeito postal ilustrado; em baixo, nova perspectiva de Crna Gora ALAN COPSON/REUTERS

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Tantas e tão desconhecidas são as jóias do Montenegro

A meio da manhã, após um constante e delicioso ziguezague por uma estrada onde não é difícil ser vítima de um acidente, de tal forma o viandante se sente deslumbrado com a paisagem, chego a Kotor com a certeza de que não abandonarei esta elegante cidade antes do dia seguinte, gozando da sua atmosfera relaxante sem qualquer mapa nas minhas mãos.

Património da Humanidade da UNESCO, a baía deixa-se abraçar pelo “único fiorde do sul da Europa”, como proclamam os folhetos turísticos mas uma outra comparação, salvas as devidas distâncias, com a baía de Halong, no Vietname, não é de todo descabida. O sentimento que me acompanha, logo após as primeiras impressões em Kotor, é muito semelhante ao que vivi em Perast, uma indolência que se entranha de forma agradável, lentamente e, ao mesmo tempo e de imediato, uma manifestação óbvia de beleza. O primeiro impacto sente-se mal se penetra no recinto amuralhado da parte velha através da entrada principal, a Vrata od Mora, a porta virada para o mar desde meados do século XVI que me conduz à Trg od Oruzja.

Uma vez na Praça das Armas, os olhos passeiam-se sem saber onde cair, de tal forma o viajante se sente cercado por palácios e residências senhoriais que não são mais do que uma viva herança (uma vez mais) de quatro séculos de domínio veneziano. Deslumbrante a Torre do Relógio, do início do século XVII; curiosa uma pedra com a forma de pirâmide, mesmo em frente da torre, que no passado era utilizada como pelourinho para envergonhar os cidadãos rebeldes; sumptuosa toda a praça quando abarcada com um olhar global. Por aqui, por estas ruas sem carros, e por estreitas vielas empedradas, vai-se descobrindo Kotor, as suas igrejas, as suas lendas, todo um misticismo que nos absorve sem demora.

Uma das mais imponentes, talvez mesmo a mais impressionante, é a catedral de St. Tryphon, construída no século XII mas alvo de múltiplos restauros após alguns terramotos que assolaram a região ao longo dos tempos. Sem pressas e praticamente sem companhia, aqui e acolá entregue mesmo à minha solidão, percorro o interior, com tanto para admirar: os seus frescos do século XIV, a sua arquitectura ao estilo romanesco-gótico, as suas esbeltas colunas coríntias alternando com pilares de pedra-rosa erguendo-se como apoio aos tectos abobadados e, last but not least, o altar, com artefactos em prata e ouro, bem como uma pedra ornamentada que retrata a vida do santo protector de Kotor.

Ao longo do dia vou entrando, sem hora marcada, noutras igrejas, ora católicas, ora ortodoxas, ora apreciando os ícones na de São Nicolau, ora descansando na de São Lucas, um verdadeiro paradigma de tolerância, ou não tivessem coexistido aqui, durante um século e meio, um altar católico e outro ortodoxo entre as suas paredes. Deixo para o final uma incursão ao Museu Marítimo, num palácio do século XVIII que se estende por três pisos e que se torna visita obrigatória para quem quer aumentar os seus conhecimentos sobre o poder naval de Kotor, um dos maiores motivos de orgulho das suas gentes.

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