Fugas - Viagens

  • Budva é um lugar emblemático do turismo de sol e praia, com uma vida nocturna que parece não ter fim; por seu lado
    Budva é um lugar emblemático do turismo de sol e praia, com uma vida nocturna que parece não ter fim; por seu lado STEVO VASILJEVIC/REUTERS
  • Sveti Stefan, com as suas casinhas de pedra pequenas e arranjadinhas, poderia servir de cenário para as Viagens de Gulliver
    Sveti Stefan, com as suas casinhas de pedra pequenas e arranjadinhas, poderia servir de cenário para as Viagens de Gulliver STEVO VASILJEVIC/REUTERS
  • Crna Gora
    Crna Gora ALAN COPSON/REUTERS
  • Kotor
    Kotor
  • Perast, na base da colina de Santo Elias, e com as suas casas ancoradas na baía, é o perfeito postal ilustrado; em baixo, nova perspectiva de Crna Gora
    Perast, na base da colina de Santo Elias, e com as suas casas ancoradas na baía, é o perfeito postal ilustrado; em baixo, nova perspectiva de Crna Gora ALAN COPSON/REUTERS

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Tantas e tão desconhecidas são as jóias do Montenegro

O sol começa a dourar as águas quando me ergo das areias da praia de Sveti Stefan com a firme determinação de caminhar até Przno para gozar da luz crepuscular que se aproxima tão vagarosamente como as ondas cheias de espuma que lambem as duas enseadas. Estas, uma vez contempladas das alturas, assemelham-se a um 3 virado ao contrário, magnificentes nas suas tonalidades de azul em perfeito contraste com o verde envolvente da natureza, um quadro tão do agrado dos piratas turcos numa época em que a zona vivia sobre o domínio de Veneza. Mas é quando chego a Przno, outra antiga aldeia de pescadores, que o espírito mais se apazigua, um encantamento que só as primeiras luzes nocturnas se encarregam de quebrar.

Sobre uma pequena ilha, uma casa de pedra sem telhado, o sol lançando as suas cintilações, o suave murmúrio do mar e a animação que se começa a sentir nos bares da praia, sobrepondo-se aos sons da natureza no seu estado puro. Não dou mais do que meia dúzia de passos, sou obrigado a virar-me para trás e, sentado, com o pensamento em lado nenhum, por ali fico, escutando, vendo as águas namoradeiras da areia.

Ausência, ausência
Si asa um tivesse
Pa voa na esse distância
Si um gazela um fosse
A noite cai e eu, imóvel.
Ai solidão, tô’ me
Sima sol sozim na céu
Sô ta brilhà ma ta cegà
Na sê clarão
Sem sabe pa onde lumia
Pa onde bai

Sei para onde vou, para a noite de Budva, acompanhado dos acordes de Goran Bregovic e da voz de Cesária Évora.

Da noite para o dia

Budva é um lugar emblemático do turismo de sol e praia, com uma vida nocturna que parece não ter fim, onde grupos de ucranianos e especialmente russos esbanjam dinheiro como quem, tendo muito para gastar, acaba de receber uma notícia anunciando o fim do mundo.

Às primeiras horas do dia, deixo-me embalar pela atmosfera sonolenta para vaguear pela Stari Grad, a parte velha da cidade que é assim uma espécie de Dubrovnik em tamanho reduzido, com as suas ruas de mármore e os seus muros venezianos subindo das águas cristalinas. Muito do que hoje se vê foi destruído em 1979 na sequência de um forte sismo e, de então para cá, muitos dos habitantes locais viram as suas antigas casas serem ocupadas por bares, restaurantes e lojas de comércio. Um curto passeio junto ao mar leva-me até à bem mais interessante cidadela, com as suas panorâmicas soberbas, um pequeno museu e uma livraria com uma vistosa colecção de antigos mapas e tomos.

A vontade de tomar um café faz-me sentar numa praça com panorâmica para a cidadela e um conjunto interessante de igrejas, um espaço sereno onde aproveito para repousar antes de me embrenhar pelos muros que protegem a vila e de ir ao encontro do museu arqueológico que, ao longo de três pisos, traça os caminhos da complicada história – que remonta a 500 anos a. C. - de Budva.

Não é que tivesse prometido ao padre António, em Perast, mas prometera a mim próprio regressar à baía de Kotor, com mais tempo para lhe dispensar do que a Budva, antes de abandonar a costa e internar-me pelo interior deste jovem estado, independente desde 2006.

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