Mais tarde verificaria que o treino tem detalhes pensados para quem quer perder massa gorda em muito pouco tempo: em primeiro lugar, a aposta no treino de pernas, que incluem grandes grupos musculares, o que significa maior gasto calórico; em segundo lugar, praticamente não se treina apenas um grupo muscular — ao contrário do que se vê muito nos ginásios, onde frequentemente há gente a exercitar apenas um grupo muscular (peito ou bícipe, por exemplo); em terceiro lugar, a aposta nos movimentos compostos, que obrigam a exercitar múltiplos grupos musculares, aliada à variação constante entre membros superiores e inferiores e cadeia anterior e posterior, gera maior refluxo de sangue, o que deixa o corpo sempre a adivinhar sobre o que vem a seguir e adia a adaptação.
Aliado a isto, cuidado com a alimentação. Toda a semana teríamos seis refeições diárias, com o cuidado de nunca passarmos mais do que três horas sem comer, para manter o metabolismo sempre a funcionar: um sumo detox às 6h50; pequeno-almoço às 8h (muesli de frutos silvestres, pão especial de cereais, queijo fresco, fiambre de peru, iogurte magro, chá e infusões, fruta); almoço; snack da tarde, após o segundo treino; jantar e ceia (muitas vezes constituído apenas por um chá). O imenso buffet do hotel é basicamente terreno proibido.
Na avaliação física inicial, revelei-me sem surpresa como o mais pesado do grupo: 81,9kg, com 23,2% de massa gorda, segundo a medição por pregas de gordura; para um homem com aquele peso, estatura (1,80m) e idade (40), tinha um pouco de gordura a mais.
Seguiu-se o teste de agachamento total e de flexibilidade e testes de força, agilidade e resistência semelhantes aos dos candidatos à Marinha americana: uma corrida de duas milhas (3,2km), flexões e abdominais até à exaustão, saltos sem balanço. Veredicto final: teria sido admitido como recruta na Marinha dos EUA. Uma alegria para quem foi dispensado aos 18 anos de fazer sequer a inspecção militar.
O primeiro treino seria num extenso relvado junto ao centro de congressos do hotel, composto por um circuito com quatro estações. “Faço sempre este programa no primeiro dia, porque mais à frente ou no fim já ninguém conseguiria”, comenta o treinador. Nome de código: Ultimate Warrior Challenge.
A palavra férias faz-nos lembrar descanso, praia, sol, e não barras com 30kg de peso para levantar acima da cabeça ou colocar às costas. Foi nessa altura que comecei a pensar se alguém no seu perfeito juízo tiraria uma semana de férias para fazer um bootcamp. Sim, quem, ó céus, pagaria para estar ali e não desfrutar das piscinas, da praia, dos bares, do spa, da comida do chef Luís Mourão? A resposta estava ali, ao meu lado, e dá pelo nome de Emiliano Maini, 35 anos, o italiano que meteu uma semana de férias para repetir o bootcamp.
Estrangeiros em maioria
O salário bruto anual de Emiliano ronda as 100 mil libras (126 mil euros), um valor confortável para quem quer pagar este Luxury Bootcamp, que pode custar de 2379 euros, em quarto single e época baixa, até 3149 euros (ou, se forem duas pessoas, 4338 euros em quarto duplo em época baixa até 5108 em época alta). O próximo começa a 16 de Agosto. Eles fazem-se quando há interessados, que devem consultar o site do hotel ou algarveluxurybootcamp.com.