À tarde fomos de novo para fora do perímetro do hotel, na praia, com um treino de corpo inteiro, em duas voltas e apenas um minuto de descanso. No final, fomos recompensados com um mergulho no mar e um lanche servido na praia por dois funcionários do hotel. E a cereja em cima do bolo foi uma massagem profunda no Sayana Wellness Center.
Ao quarto dia, a balança dizia que estava mais leve e a roupa parecia-me mais larga. Seria só um efeito mental placebo? Seria verdade? A maior parte dos participantes já não se queixava de dores. Os corpos estavam de facto a adaptar-se. Para a maioria de nós, tinha sido um choque brutal.
A manhã foi passada numa prova Tabata, isto é, treino intervalado de alta intensidade. Quatro blocos Tabata, com a duração de quatro minutos cada, durante o qual o esquema é sempre o mesmo: 20 segundos de actividade intensa, dez segundos de paragem.
Após o almoço, mais um treino de corpo inteiro, desta vez noutro relvado do hotel, onde estava também montada uma zona de treino TRX. A quantidade e qualidade de material disponível neste bootcamp é assinalável; bate ginásios e cadeias de ginásios por esse país fora.
Cada membro do grupo recebeu um baralho de cartas completo: 54 cartas, incluindo dois jokers. Cada carta tinha um “valor facial” e cada naipe representava um tipo de exercício. O objectivo era virar carta a carta e fazer o exercício e o número de repetições correspondentes. Tudo corria bem até me saírem os jokers: cada um valia 20 burpees, um dos exercícios mais desgastantes que conheço. Por azar, saíram-me um a seguir ao outro; além de alguns palavrões, veio-me à mente uma frase famosa de um importante autor do teatro do absurdo: “Tentei sempre. Falhei sempre. Não interessa. Tenta outra vez. Falha outra vez. Falha melhor” (Samuel Beckett).
Ao quinto dia, o programa era animador: faltavam dois treinos (um circuito na praia e um tipo Spartan 300, com dez exercícios e 300 repetições totais), uma corrida de 20 minutos feita numa parte do percurso do famoso Crosse das Amendoeiras do Algarve. Para o penúltimo dia, um passeio de BTT, que teve 22km de extensão e não registou quedas.
No último dia, regressámos às avaliações e o meu veredicto deixou-me satisfeito: numa semana perdi 4,2% de gordura corporal, passando dos iniciais 23,2% para 19%, com destaque para a gordura abdominal (das mais perigosas), zona em que a prega diminuiu 16 milímetros. Na balança tinha menos 1kg (pesava agora 80,9), mas segundo as pregas de gordura tinha perdido 4kg de massa gorda, o que significa que, em simultâneo, e graças ao estado anabólico propiciado por uma alimentação correcta e descanso adequado, ganhei 3kg de massa magra. Não podia estar mais satisfeito até porque em casa, treinando no ginásio e controlando muito a alimentação, demoro oito semanas a perder 2% de massa gorda.
Afinal, se havia algo de indecente nesta proposta, era o facto de regressar a casa para fazer férias à moda antiga: perder-me nas filas para a praia; disputar a areia com os vizinhos; sair da praia a correr para evitar as filas de regresso. Um cenário que talvez custe menos suor, mas que cansa só de pensar nele.