Mais uma vez, usei as cargas máximas e mais uma vez atingi o limite — aquele momento em que já não há glicose na corrente sanguínea para alimentar os músculos. É nessa altura que o corpo se vê obrigado a recorrer às reservas – é bom que sejam as de gordura, porque na pior das hipóteses vai à massa magra (músculo), cuja “queima” é mais eficiente.
O segredo de toda a semana reside nisto: induzir o chamado EPOC (Excess Post-exercise Oxygen Consumption), também conhecido na gíria inglesa como afterburn, um período em que há um aumento considerável do consumo de oxigénio após exercício de alta intensidade. Em traços gerais, o EPOC perdura para lá do tempo do exercício e, descrito de forma simplista, mantém o fornecimento de oxigénio em níveis elevados para o corpo “queimar” calorias mesmo quando já está em repouso.
Para tal é essencial um plano alimentar que garanta um ambiente hormonal favorável ao estado anabólico. Para gastar é preciso ter, uma verdade que também se aplica às calorias e aos nutrientes. É por isso errado deixar de comer quando se quer emagrecer, ou reduzir a alimentação ao mínimo. Isso favorece um estado catabólico, ou seja, leva-se o corpo a queimar músculo e massa magra em vez de ir aos depósitos de gordura, que até podem aumentar dado haver um défice calórico acentuado. E mesmo que a balança diga que estamos mais leves, o que provavelmente desapareceu nesses caso foi a massa magra.
Para evitar o estado catabólico, o chef Luís Mourão, que gere a gigantesca cozinha do Epic Sana, teve de adaptar os menus de Verão e de Inverno às exigências específicas do treinador Marco Baioa e da nutricionista Joana Mendes Cruz.
Duas ou três orientações essenciais, que muitos de nós podemos seguir nas nossas cozinhas: garantir a energia suficiente para adiar ou minimizar a fadiga (e por essa via também evitar lesões); dispensar as calorias vazias (refrigerantes, por exemplo) e alimentos com baixa densidade de nutrientes; variar as fontes de hidratos de carbono, de proteínas e de gorduras saudáveis, fornecendo-as na altura certa para um ambiente hormonal favorável.
A vantagem dos bootcamps é que tudo acontece sem termos de pensar nisso, nem perder tempo a executar. E, assim, umas férias que pareciam ser uma canseira, são afinal um descanso. Mesmo que para isso se tenha de suar. E muito.
O dia terminou com um programa ao estilo Crossfit, a modalidade de fitness que tem vindo a conquistar adeptos em todo o mundo. Programa: seis rondas (para melhor tempo) de 20 agachamentos, 30 walk lunges, 15 flexões, 15 fundos (trícipe), 50 metros de natação. Depois de dois circuitos duríssimos, um treino com piscina pelo meio pareceu canja.
Ao terceiro dia regressámos à corrida, agora pela falésia, com cinco paragens pelo meio, cada uma para 100 repetições de um exercício. A terminar, uma corrida pela escadaria que liga o hotel à praia, dezenas e dezenas de degraus, percorridos a alta velocidade. Antes disso, claro, tinha havido aquecimento e rolos. Desta vez, o treinador usou um stick, para “rolar” nos músculos de alguns de nós. Na minha vez, foi a vergonha total: os meus gémeos estavam uma lástima. Foi tão doloroso que os meus berros se devem ter ouvido cinco pisos acima. Parecia que alguém estaria a dar à luz gémeos. E com estes nascendo em simultâneo…