Para a maioria da população portuguesa, mais de 2000 euros para uma semana de férias não é sequer uma opção. Para Emiliano, “os resultados acabam por justificar o investimento”. “É uma semana que dedico a mim próprio. Aqui trato do físico, mas trato sobretudo da mente. Quando regressar a Londres vou pensar duas vezes se quiser pegar num refrigerante logo de manhã, como é habitual. Claro que isto passa, mas enquanto durar esta predisposição mental, não faço tantas asneiras”, conta.
Certo é que os bootcamps são, dentro do segmento das férias desportivas, um nicho com popularidade, sobretudo no estrangeiro, que é de resto o principal fornecedor de clientes para os bootcamps no Algarve. Para o Epic Sana, que aposta agora no mercado nacional, este programa surgiu como “uma forma de combater a sazonalidade”, diz o director do hotel, Lourenço Ribeiro, que está surpreendido com “uma adesão inesperadamente mais elevada”.
Decompondo o preço, talvez este até seja convidativo: sete dias de alojamento nesta unidade custariam em Julho à volta de 2100 euros (regime de alojamento e pequeno-almoço); os serviços de um treinador pessoal, que cobraria pelo menos 40/50 euros por hora em qualquer ginásio, ficariam por cerca de 1800 euros, tendo em conta que Marco Baioa dedica em média seis horas com o grupo. Somando as parcelas, o preço proposto situa-se abaixo do custo destes dois serviços em separado, com o aliciante extra de a tabela de preços do bootcamp incluir todas as refeições diárias, bem como reforço de fornecimento de água e toalhas.
Voltemos ao Ultimate Warrior Challenge. Quatro exercícios, feitos uns a seguir aos outros, em circuito, com 19 rondas: clean and press com barra (usei 30kg); V-crunch com bola (9kg); kettlebell swing (20kg) e, finalmente, agachamento com barra aos ombros (30kg). Começámos em duas repetições de cada exercício e acrescentámos mais duas em cada volta, até chegar às 20 repetições na 10.ª ronda; a partir daí era cortar duas repetições em cada ronda.
Já a perder forças, a meio deste treino, lembrei-me de uma frase famosa: “O desporto não constrói o carácter de alguém; revela-o”. Surpreendi-me com a minha capacidade de pensar quando só respirar já era difícil. “Isto é um programa radical”, dissera o treinador, na véspera. Aí estava a prova.
O primeiro a completar o circuito demorou cerca 46 minutos. Eu demorei 61 minutos. Fui o último a terminar. Usei as cargas maiores. Paguei a factura. Talvez no final fosse recompensado. Dois dinamarqueses que fariam o bootcamp na semana seguinte cumpriram o mesmo circuito em 31 minutos.
Roll & Roll
O segundo dia começou à hora estipulada, 6h50. Sumo detox e depois aquecimento no estúdio, com alongamentos e libertação miofascial. Para tal, são disponibilizados rolos de espuma dura, usados para “passar a ferro” os músculos. Isto visa liberta as fáscias musculares e, por essa via, favorecer a mobilidade e flexibilidade, dois aspectos essenciais para quem tem ainda uma semana de treino intenso pela frente.
Os rolos tinham aliviado os sintomas mais graves, mas ninguém estaria preparado para o que se seguiria, um Power Circuit com dez estações: subir e descer dezenas de degraus segurando pesos (20kg); crunch (abdominais) com bola (9kg); tentar desfazer um pneu de camião com uma marreta (de 8kg); flexões com bosu; remo; levantar um power bag (15kg) do chão para o ombro; arrastar um power bag (40kg) pelo chão; saltar para cima de uma caixa (75cm de altura); subir e descer, alternando as pernas, para um pneu de tractor; corrida com elástico para a cintura. Duas rondas disto, com um minuto em cada estação e praticamente sem intervalo.