A conversa começou com uma frase que, apesar do teor, me pareceu apenas um desbloqueador: “Victor, tenho uma proposta indecente para te fazer.” Confiante, agucei os ouvidos: um bootcamp de luxo, de uma semana, num hotel de cinco estrelas no Algarve. Programa diário: acordar às seis, aquecimento às sete, treino de duas horas e meia de manhã e dose idêntica à tarde. Não evitei pensar: estariam loucos?
Semanas depois, estava na estrada rumo ao Epic Sana Hotel, na praia da Falésia, em Albufeira. Carreguei o carro com a lista de material recomendado, enviada previamente: diversos pares de calçado desportivo; “bastante quantidade de roupa interior” e de meias de desporto “de qualidade”; roupa desportiva em camadas; um casaco compacto impermeável; cantil; boné; luvas de exercício; óculos de sol; pacote de pensos rápidos; e mais umas miudezas. Também levei comigo algumas preocupações: será que teria de correr na praia, para mal dos meus joelhos? Dar-me-iam comida suficiente? Haveria alguma semelhança com os populares bootcamps de estilo militar, em que o pessoal tenta construir um “espírito de grupo” para sobreviver ao exercício no mato, ao sono em tendas, à falta de comida?
Rapidamente percebi que a palavra luxo não estava por acaso ao lado da palavra bootcamp. O Epic Sana é um cinco estrelas inaugurado em 2013 e desde que se entra até ao check out é-se tratado como um rei. O check in foi feito no quarto, onde me deixaram uma caixa com três bombons de chocolate e um macaron. Se um bootcamp é para tratar do físico, mais valia despachar logo os chocolates. Olhei para a espreguiçadeira na varanda e perguntei-me quanto tempo iria passar ali deitado a ler e a relaxar. Puro engano…
Horas depois, primeiro briefing com o treinador, Marco Baioa, um algarvio que andou por meia Europa até regressar a casa. Em cerca de 60 minutos, descreveu o essencial da semana que teríamos pela frente. Sete dias de trabalho físico de alta intensidade, para um grupo constituído por sete pessoas: jornalistas, bloggers, um empresário e um corretor financeiro vindo de Londres. É a segunda participação deste último no bootcamp, embora o primeiro tivesse sido noutra unidade hoteleira. “Se há quem repita, é porque a coisa não é assim tão má”, pensei.
“Isto não é um bootcamp militar”, começa por dizer o treinador. Primeira dúvida respondida. “A minha linha é o fitness, o método é o treino funcional”, prossegue. De certeza que havia ali gente a pensar numa coisa tipo The Biggest Looser, o famoso programa de TV, que teve versão portuguesa na SIC, no qual pessoas obesas entravam em reclusão numa quinta para tentarem emagrecer graças a um rigoroso plano de treino, descanso e alimentação. “Vocês não têm grandes hipóteses de fuga ou de ficarem na ronha. Isto é um programa radical.” Enquanto o briefing decorria, a organização mandou limpar o minibar dos quartos. Só ficaram as águas. Isto não é TV Realidade, nem um bootcamp militar. Mas, pelos vistos, também não é para brincar.
In the Navy!
O primeiro dia começou por volta das 7h30. Na véspera, Marco citou casos de pessoas que perderam quatro a sete quilos de massa gorda numa semana. Certo de que ali ninguém obteria resultados dessa grandeza, mantive-me longe de expectativas.