Tal não é tão linear para património simplesmente desactivado, como “estações, apeadeiros, casas de serviço, casas de funções, dormitórios, cais cobertos, armazéns”. “Temos que ter uma visão a largo prazo”, justifica. Logo, o mais comum é o arrendamento e a concessão — também a longo prazo, “20, 25 anos, noutras condições ninguém quereria investir”. Quem quiser realmente investir não encontrará limitações à partida: todos os projectos são válidos, desde que se encontrem edifícios adequados que possam ser readaptados à funcionalidade pretendida sem alterar a base construtiva — a traça das fachadas é intocável. Por exemplo, um hostel tem de ter condições mais especiais do que um restaurante e se estes são exemplos que vêm à cabeça de Susana Abrantes é porque estas são duas das novas “ocupações” mais comuns. Os hostels a Sul, os restaurantes a Norte, parece ser a tendência de reaproveitamento deste património carregado de “simbolismo, de memórias e valor emocional que não pode ser menosprezado” e muitas vezes em localizações belíssimas — veja-se, por exemplo, a Guesthouse Train Spot, em Marvão, a dois passos da serra de São Mamede.
São nove os edifícios referenciados pela Refer Património como estando reconvertidos, todos dedicados ao turismo — a Fugas espreitou alguns.
Ecopistas: as vias verdes das bicicletas
Não só o imobiliário é reutilizado quando as funções ferroviárias terminam. As linhas e troços desactivados também estão a ser reconvertidos pela Refer para projectos de turismo ambiental. As ecopistas surgem assim como as segundas vidas dos canais ferroviários, num processo cuja concretização envolve as autarquias interessadas em dinamizar turisticamente estes traçados reservados a deslocações não motorizadas e desenvolvidas em contextos que valorizem o meio ambiente.
Neste processo, a Refer assume o projecto, as autarquias o investimento na requalificação das linhas e canais e algum edificado que seja útil à ecopista — como zona de apoio ou apenas pela harmonia paisagística, sublinha Susana Abrantes. Em Portugal há 10 ecopistas (Minho, Famalicão, Guimarães, Tâmega, Corgo, Sabor, Dão, Vouga, Montado e Mora) que formam o Plano Nacional de Ecopistas da Refer, membro da Associação Europeia das Vias Verdes (que em Portugal recebeu o nome de ecopistas), que na sua declaração fundacional reivindicava o “suporte privilegiado para o desenvolvimento das Vias Verdes” dos “caminhos, canais e vias ferroviárias desactivadas”. A.M.P.
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Peso da Régua: Restaurante Castas e Pratos
Quando, em 1879, o primeiro comboio chegou à Estação Ferroviária de Peso da Régua foi “uma revolução”, parafraseando “O caminho de ferro foi uma revolução” que se lê na placa comemorativa que assinala o primeiro centenário da gare. Douro Litoral, Trás-os-Montes e Beira Alta ficavam ligadas por um meio de transporte efectivo que permitia não só uma maior circulação de pessoas como de produtos — aqui produzidos (com o vinho, inevitavelmente, à cabeça) e aqui comercializados. Para estes, os produtos, foi construído um armazém de madeira num único volume: 200 metros de comprimento, 60 de largura, sobre uma plataforma de quase um metro de altura e com fachadas ripadas de três metros, como se lê no site da Direcção-Geral do Património Cultural.