Fugas - Viagens

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Bordéus, o despertar da Bela Adormecida

À medida que a noite avança e a lua sobe no céu, os jovens parecem acompanhar o ritmo de uma e outra, invadindo lugares como a Place de la Victorie, a de St. Pierre, a Place du Parlement e a Camille Julian, muitas vezes antes de um regresso ao ponto de partida, a Place Gambetta, à qual se pode chegar utilizando a Rue de la Porte Dijeaux (uma designação que presta homenagem a uma antiga porta construída em 1748), uma artéria pedonal e paraíso de compras que rivaliza, em termos de comércio, com a Cours de l’Intendance, a Place des Grands Hommes e a Rue Ste.Catherine, que corre paralela ao Garonne ao longo de mais de um quilómetro entre a Place de la Victorie e a Place de la Comédie. 

Quando a manhã desperta, o profano não é mais do que uma memória e, sob uma imponderável luminosidade, recorta-se o sagrado, representado pela Cathédrale St. André, já Património da UNESCO (1998) quando a cidade ainda sonhava com essa classificação e o lugar onde, em 1137, o futuro rei Luís VII casou com Eleanor da Aquitânia (bem como Ana da Áustria e Luís XIII). A parede exterior da nave da catedral data de 1096 mas a maior parte da estrutura foi erguida entre os séculos XIII e XIV; bem mais recente, a renovação do portal do lado norte pôs a nu admiráveis esculturas vestidas de sujidade durante séculos — um paradoxo se pensarmos que muitas delas foram pintadas com cores garridas para atrair um maior número de devotos. Tristemente, a catedral, localizada perto do edifício da Câmara Municipal e considerada, justamente, o mais belo de todos os monumentos religiosos da cidade, serviu de armazém de forragem durante os tempos conturbados da Revolução Francesa e, já mais tarde, no século XIX, foi devastada por um incêndio (o mobiliário actual pertencia a outras igrejas espalhadas pela cidade). 

A aura vinícola

- Não, felizmente Bordéus não é apenas vinho, é uma maneira de viver, como São Francisco, nos Estados Unidos, assume Gwenaëlle Towse-Vallet.

Bordéus organiza, de dois em dois anos, a Festa do Vinho (em 2016 terá lugar entre 23 e 26 de Junho e também para o ano está prevista a inauguração do Museu do Vinho) e, por essa altura, as ruas enchem-se de apreciadores e simples curiosos. Com ou sem celebração, em Bordéus bebe-se e respira-se vinho e as possibilidades de o turista se embrenhar neste admirável mundo velho de séculos, tão íntimo da cidade e da região como um cordão umbilical de um filho e de uma mãe, multiplicam-se como as vinhas em terrenos que se perdem para lá do horizonte. O posto de turismo propõe um grande número de circuitos, de carro, de bicicleta ou de barco, degustações, visitas clássicas aos châteaux, dias gastronómicos em Margaux, descoberta de três diferentes vinhas ou de vinhas classificadas, como o Médoc 1855, uma variedade de ofertas que certamente deixará os admiradores ébrios de… felicidade. Eu, talvez mais seduzido pela lenda, prefiro percorrer os poucos quilómetros que me separam de Saint-Emilion, a charmosa aldeia medieval onde a proeminente arquitectura e a reputação dos vinhos são como irmãos inseparáveis.

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