Fugas - Viagens

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Sete dias na vida dos intha, os astuciosos filhos do lago

- Mg Kyi Soe, bem como toda a família, convidam-no a ir a casa deles. Pedem-me que lhe transmita que é um lugar simples, humilde, de gente pobre, mas onde se sentirão honrados em recebê-lo.

Basta atravessar a estrada, à esquerda ergue-se uma construção inacabada em madeira e, espalhados um pouco por todo o lado, ao ar livre, apetrechos de cozinha, resquícios de uma fogueira e galinhas errando sem destino, debicando aqui e acolá.

- Esta é a casa onde eles vão morar. Está a ser construída por Mg Kyi Soe, com a ajuda dos familiares e de alguns amigos nas poucas horas livres que lhes restam. Mg Kyi Soe trabalha como empregado de mesa num pequeno restaurante mas o grande sonho dele, desde criança, é ser jogador de futebol profissional, revela Pu Sue Sue.

Subo um lanço de escadas, deixo os chinelos à porta e entro num pequeno espaço, desprovido de mobília e assente em pilares de madeira, que serve de sala de visitas. Num quarto anexo, com uma única janela virada para a rua, onde o sol deposita os seus raios, os noivos vão abrindo os presentes.

- Esta é Daw Htwe, a avó de Mg Kyi Soe, apressa-se a dizer-me Pu Sue Sue quando regresso à sala onde já se agrupa uma grande parte da família. Há um relógio, uma televisão, um espelho, alguns utensílios de cozinha e uma mesa baixa onde repousa um termo.

- Ela pergunta se deseja chá ou café, traduz Pu Sue Sue quando os recém-casados se juntam a nós. Mg Kyi Soe murmura algumas palavras, audíveis mas indecifráveis, que Pu Sue Sue escuta atentamente e eu passo o olhar pelas muitas fotografias que decoram a sala, fixando-me numa em que o noivo posa com um equipamento desportivo e um troféu, ao lado de peças de bronze sobre uma prateleira encimada por um conjunto de medalhas. Pu Sue Sue vira-se na minha direcção.

- Mg Kyi Soe diz que o ídolo dele é Cristiano Ronaldo.

Prometo (e cumpro) enviar-lhe uma fotografia, tirada em 2004, na qual estou com o jogador português, durante uma entrevista, no Parque das Nações, em Lisboa. Ele sorri e volta a recorrer a Pu Sue Sue.

- Mg Kyi Soe agradece e gostaria de o convidar a assistir à final do torneio de futebol, em Nyaungshwe.

A avó, com resquícios de tanaka (uma mistura de água e sândalo usada, há mais de 2000 anos, como protector solar e maquilhagem — porque uma pele mais branca é sinónimo de beleza — por mulheres e crianças) na face, volta a encher-me a chávena, acende um charuto e estende-me outro.

- Daw Htwe nunca fumou um cigarro mas fuma charutos com regularidade, observa Pu Sue Sue.

Estes charutos, com pouco tabaco e muitas ervas aromáticas, são fabricados no lago Inlé e são o sustento de centenas de famílias — em média, cada mulher faz entre 800 a 1000 por dia, a troco de qualquer coisa como dois euros.

A tarde avança apressada quando, sentindo-me grato pela experiência, me faço à estrada e, na maior parte do tempo acompanhado apenas de um silêncio tão apaziguador, chego ao cruzamento onde, numa tabuleta de madeira, está escrito Red Mountain Estate, uma das duas produtoras de vinho na Birmânia. A subida é íngreme, levo a bicicleta pela mão e o suor escorre-me pelo rosto enquanto vou olhando as vinhas que se espraiam ao longo do vale vestido de um verde intenso. É tempo para um copo de Chardonnay e para a vista se perder no horizonte. O lago, como um espelho, reflecte a imponência das montanhas sob um sol já moribundo que pinta no céu os últimos suspiros alaranjados.

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