Fugas - Viagens

  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro
  • Sousa Ribeiro

Continuação: página 4 de 8

Sete dias na vida dos intha, os astuciosos filhos do lago

Hino à originalidade

Desperto com o ruído dos motores dos barcos que rasgam as águas do rio situado a meia dúzia de passos da Four Sisters Inn e caminho até uma das margens para ver de perto o intenso movimento das primeiras horas da manhã, ainda praticamente órfã de turistas. Enormes cestos, cheios de tomate, são transportados pelas embarcações até um armazém onde camiões, provenientes das mais diferentes zonas do país, se abastecem. Os intha, eternamente laboriosos e engenhosos, produzem mais de 40% de tomate do país, bem como, ainda que em menor escala, outros legumes que crescem nos seus jardins e hortas flutuantes atravessados por estreitos canais que permitem aos agricultores fazer a recolha sem abandonarem os barcos. Na verdade, os intha desenvolveram um sistema de cultura original perfeitamente adequado ao meio ambiente, construindo pequenas parcelas (um ou dois metros de largura e entre cinco a dez de comprimento) compostas por raízes que emergem da água e cobertas com terra, conferindo-lhe uma riqueza que é exacerbada por um aglomerado de algas utilizadas como fertilizante. Uma parte substancial da produção é canalizada também para os mercados que funcionam de forma rotativa no lago Inlé — um dia, uma aldeia, em Kaung Daing, depois em Maing Thauk, seguidas de Nam Pan, de Indein e, finalmente, de Thandaung e assim sucessivamente.

É um jovem intha quem me conduz ao longo do rio e, mal o lago se abre como uma boca, banhado pelos primeiros raios de sol que acentuam os prazeres da manhã, familiarizo-me com outras das facetas desta comunidade: a pesca. Apoiados sobre um pé, numa das extremidades da piroga, os pescadores mantêm-se num equilíbrio que aos meus olhos me parece precário, enquanto a outra perna, envolvendo o remo (o lago tem uma profundidade entre os três e os cinco metros), permite propulsar as suas frágeis embarcações. Astuciosos, os intha beneficiam desta técnica exclusiva para avistarem mais facilmente os peixes e os obstáculos mas, mais ainda, para ficarem com as mãos livres para manobrar, atirar à água ou recolher as oak saung, as suas grandes redes cónicas que há muito se transformaram num dos postais mais mediáticos desta espécie de Veneza da Birmânia.

Verdadeiros acrobatas sobre as águas, os intha pescam tanto nga-igyin, as grandes carpas saltitantes, como nga-yan, as enguias e os peixes-gato, uma actividade que intervalam com a agricultura (pescadores durante a manhã e agricultores pela tarde fora) e da qual, muitas das vezes, não retiram mais do que dois ou três euros ao fim de um dia esgotante e rodeados de um cenário que, aos olhos do turista — e só deste —, se afigura como magnificente, qual quadro poético e charmoso. O que muitos — e são cada vez mais — ignoram é que, se não forem tomadas medidas, o lago Inlé pode não passar de uma memória dentro de menos de cem anos, transformando-se num simples vale, tão elevados são os níveis de assoreamento em algumas partes. As causas são fáceis de enunciar: exploração próxima do limite (há cada vez mais pescadores, menos peixes e algumas espécies tendem a desaparecer), alterações climáticas (a água é cada vez mais fria), sobrepopulação (o lago e as suas aldeias acolhem 400 mil habitantes), proliferação de jacintos de água que obrigam à drenagem constante dos canais e acentuam a sedimentação, desflorestação (o abate de árvores é comum entre a população indígena, carente de meios económicos que lhe garantam o acesso ao combustível), um mar de fenómenos que, de uma forma ou de outra, contribui para perturbar o equilíbrio já de si frágil de um lago que ocupa hoje menos de metade da área que cobria há apenas 70 anos.     

--%>