Está na hora de ir apanhar o autocarro que me vai levar de Tirana a Berat, um dos segredos mais bem guardados do país, e daqui até à costa, partindo depois sempre para sul, antes de me desviar para o interior, até Gjirokastër, alvo das melhores anedotas albanesas em virtude da fama de carácter somítico das suas gentes.
- Não queres que te conte só mais uma, a última?
O ambiente no hostel Destil, em Tirana, é descontraído. - Sabes qual é o animal preferido dos habitantes de Gjirokastër?
- …
- É a girafa! E sabes porquê?
- …
- Como tem um pescoço muito comprido, pode comer no quintal do vizinho.
No último instante, decido visitar Berat apenas no percurso de regresso à capital e apanho um autocarro que, ao fim de uma hora, ainda a manhã se espreguiça, me deixa em Durrës, dominada pela silhueta da Grande Mesquita. Enquanto venço o quilómetro que separa o terminal do centro, caminhando sem pressas por entre transeuntes apressados, recordo palavras de Halit Methasani, tradutor de literatura estrangeira.
- Não sei se os albaneses são, como tanta gente apregoa, um povo generoso. Diria que são hospitaleiros e acredito que, durante a tua a viagem, para mais à boleia, não terás grande dificuldade em confirmar essa característica. E não faltam, entre Durrës e Sarandë, lugares interessantes para visitar. Não percas, para começar, o anfiteatro romano.
Sem demora, o impressivo monumento construído numa encosta no interior das muralhas da cidade nos primeiros anos do século II d.C. perfila-se no meu campo de visão, não tão grandioso como nesses tempos de antanho, quando tinha capacidade para acolher entre 15 a 20 mil espectadores, mas, ainda assim, imponente.
Erguido durante o governo do Imperador Trajano, o anfiteatro apenas foi descoberto na segunda metade do século XX e é um dos mais magnificentes de toda a península balcânica e sem paralelo em todo o país, abrigando também uma capela bizantina com um número significante de mosaicos. Com uma localização privilegiada, mesmo no coração da antiga Epidamnos ou Dyrrachium, o anfiteatro sofre, por um lado, as consequências do caótico plano urbanístico, com efeitos na sua estrutura e, por outro, de uma certa neglicência justificada com a falta de apoio financeiro – e, por isso, a sua candidatura a Património Mundial da Humanidade tem vindo a ser sucessivamente recusada pela UNESCO.
Taberna do Adriático
No topo da colina, avisto, recortando-se contra o céu azul, um edifício de grandes proporções que alcanço depois de caminhar uns quinze minutos por um atalho. A imagem de decadência contrasta com um passado coberto de glória mas os noivos, com uma divina indiferença face aos constantes actos de vandalismo – iniciados durante as perturbações sociais que eclodiram em 1997 na sequência dos esquemas financeiros em pirâmide e que causaram cerca de 4000 mortos – continuam a acorrer ao lugar em busca de sorte no dia em que contraem matrimónio. Levantado entre 1926 e 1937, o antigo palácio de Verão foi um presente de alguns empresários de Durrës ao rei albanês Ahmet Zog I como sinal de prosperidade; mas o monarca que antes foi presidente e, antes ainda, primeiro-ministro, dispôs apenas de duas temporadas para desfrutar, na companhia da rainha Géraldine Apponyi de Nagyappony – com quem casou uns meses após a conclusão das obras – do luxo de um espaço onde não faltavam elegantes escadas de mármore e delicados tectos de madeira trabalhada e que, visto à distância, tem a pretensão de se semelhar a uma águia.