I am Francisco Vasquez Garcia,
I am welcome in Almeria
We have sin gas and con leche
We have fiesta and feria.
Envergonhado da minha voz, desisto de imitar o inimitável Shane McGowan dos Pogues e parto à descoberta de alguns dos lugares que tratarei de redescobrir na manhã seguinte. Almeria, fundada pelo califa Abd-ar-Rahman III de Córdova no ano 955 d.C., é uma cidade que facilmente cativa, pelas suas gentes mas também pelo seu legado histórico, no qual se inclui a imponente Alcazaba, uma fortaleza medieval erguida no século X mas destruída em 1522 na sequência de um terramoto — e o mesmo destino, nesse ano trágico, teve a catedral, originalmente construída como mesquita e, depois do terramoto, levantada no estilo renascentista, a despeito de manter algumas das suas estruturas defensivas. Antes de deixar Almeria para trás, quando o calor começa a tornar-se insuportável, tempo para uma visita à igreja de Santiago, às ruínas do castelo de San Cristobal e, uma vez vencida uma escadaria que parece eterna, à Chanca, um conjunto de casas escavadas nas rochas mas também um dos bairros mais populares e pitorescos da cidade, com traços ainda da ocupação muçulmana, da Al-mari’yah, a Torre de Vigia.
Playa de Bolonia, Tarifa
Com toda a justiça, a Playa de Bolonia, comprida (quase quatro quilómetros de comprimento), de areias finas e douradas, é considerada uma das mais formosas da Andaluzia e uma das últimas praias virgens do sul da Península Ibérica. Rodeada por um importante conjunto natural e histórico, surpreende, à sua direita, por uma delicada duna formada pela força dos ventos provenientes do estreito e que vai serpenteando entre os pinheiros verdes que completam um quadro de diferentes cores e quase perfeito, servindo de abrigo aos turistas adeptos do nudismo. Declarada Monumento Natural em 2001 e de grande valor ecológico, a duna de Bolonia é altamente móbil e impede o crescimento de espécies vegetais, à excepção do estorno, que ajuda à sua manutenção.
Com uma escassa ocupação humana na área circundante, Bolonia está bem conservada e proporciona igualmente uma visita às ruínas da antiga cidade romana de Baelo Claudia (deve o nome ao imperador Claudio), erguida sobre um assentamento fenício e descoberta em 1917 por um arqueólogo francês — e muito antes também a deusa egípcia Isis teve o seu templo na cidade.
Tarifa, a cidade do vento, é a porta de entrada e de saída de dois continentes, não distando mais do que 14 quilómetros da costa africana — Tânger situa-se mesmo em frente; mas Tarifa é também palco do encontro entre as águas do Atlântico e do Mediterrâneo e o ponto mais meridional de Espanha: o estreito de Gibraltar.
Perder-se pelas ruas estreitas e labirínticas bordejadas de casas baixas da parte antiga de Tarifa é um prazer renovado a cada instante; e sentir o pulsar da vida numa praça que não se procura ou ao longo de uma alameda que conduz ao mar e cujo som produzido pelas ondas não tarda a magnetizar o viajante — tudo isto oferece uma cidade que se orgulha do seu castelo, testemunha de lutas heróicas entre árabes e cristãos e da fortaleza mandada erguer por Abd al-Rahman III no ano 960 e uma das mais sólidas nesse tempo distante.