Fugas - Viagens

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De Lorosae a Loromunu, Timor é um espanto

Por Carla Fonseca

Timor das praias de água transparente, recifes de corais e portentosas montanhas. Da ponta Lorosae (onde nasce o sol) à Loromonu (onde o sol se põe) a viajar sem sabermos o que vamos encontrar. No fim, não há como não nos rendermos à beleza desta terra.

Quando aterramos no aeroporto Presidente Nicolau Lobato e temos de atravessar a pista a pé, até à minúscula sala, com o tapete rolante minúsculo, que nos devolverá as malas que despachamos há mais de 40 horas, tudo à nossa volta parece querer reforçar a evidência de que acabamos de aterrar num país de terceiro mundo. Mas um aeroporto é só um aeroporto.

Estamos em Timor-Leste, um país tão distante e tão próximo de nós ao mesmo tempo. Estamos num bocadinho da Ásia onde se fala português (na verdade, não se fala assim tanto português, nisso os indonésios foram bem-sucedidos), e sentimo-nos estranhamente em casa. Não sabíamos bem o que esperar de Díli e, talvez por isso, quase tudo nos tenha surpreendido: o trânsito caótico de Comoro; a animação na Avenida de Portugal, ao final do dia, com grupos de pessoas a fazer jogging (jogging, leram bem), crianças a mergulhar no mar e cardumes de peixes expostos nos muros, ou pendurados nas árvores; o som da mesquita; as motorizadas com mais do que duas pessoas em cima; o recorte perfeito do crocodilo nas montanhas, com o Cristo Rei na ponta do nariz; as habitações precárias; as habitações de luxo; os porcos no meio da estrada (porcos, leram bem) – e os cães e as galinhas e as cabras; os hotéis de cinco estrelas; o Palácio do Governo; o mercado da fruta em Lecidere; a catedral; o Timor Plaza (a outra catedral, a do consumo); os restaurantes gourmet; os tiga rodas com carne frita; a praia de areia branca...

Mas vamos por partes, que esta cidade, rural e cosmopolita ao mesmo tempo, tem muito que se lhe diga.

Um gin na praia

A primeira coisa que fazemos depois de largar as malas é ir até à praia da Areia da Branca. Sentamo-nos numa esplanada, a que tem as melhores panquecas de Díli (e portanto de Timor-Leste, porque que se saiba não se fazem panquecas fora da capital), a beber uma água de coco à sombra de uma árvore, com o Pacífico à nossa frente e parece-nos que o tempo devia parar naquele momento. A praia está praticamente vazia, porque é dia de semana e só ao domingo costuma encher-se de banhistas. E quando o sol se põe, com tal rapidez que parece que o estamos a ver em stop motion, a praia da Areia Branca parece-nos a mais bonita do mundo, até conhecermos todas as outras de Timor-Leste. Seja como for, não perde o estatuto da praia com o mais bonito pôr do sol, ou pelo menos um dos mais bonitos.

(Já agora, um parêntesis para dizer que a melhor praia de Díli é a praia dos Coqueiros. Para lá chegar é preciso passar Comoro e uma encruzilhada junto à pista do aeroporto. Depois é procurar o cemitério e estacionar.)

Há pescadores que lançam as redes no mar e se a pescaria for boa não faltará peixe à venda na beira da estrada, sobretudo ao final do dia, quando as pessoas saem do trabalho.

É, aliás, ao final do dia que a cidade se torna mais interessante, por estar menos calor e por haver grande movimentação na rua, sobretudo na marginal (quase todas as lojas, incluindo as do shopping Timor Plaza fecham às 18h), onde se vê a grande variedade de nacionalidades que vivem na capital. Há os que fazem jogging; há os que se sentam com telemóveis e computadores portáteis em Lecidere; há os que aproveitam para fazer compras no mercado da fruta, este sim aberto até mais tarde; há os que tomam banho no mar, sobretudo crianças, ali junto ao farol; há os que andam de bicicleta; há os que vão beber um gin à Diza, e por aí fora.

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