Fugas - Viagens

  • Nuno Ferreira Santos
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Nápoles: A sedução do mau caminho

Passamos por baixo da ornamentada Port'Alba, uma das antigas entradas na cidade muralhada do século XVIII, e caminhamos pela rua-túnel que lhe recebe o nome até à Piazza Bellini, por entre as bancas de algumas das livrarias mais antigas da cidade. A partir daqui, as ruas voltam mais uma vez a estreitar-se, apinhadas de turistas, restaurantes e souvenirs. Ainda não chegámos à Via dei Tribunali – a mais movimentada e que atravessa o bairro até à rua da catedral da cidade – quando entramos na loja de Francesco Viscione, atraídos pelos bonecos de presépio e pela música clássica que se ouve desde a rua.

Napolitano de gema, convida-nos logo a entrar, mostra os cantos às vitrinas repletas de figuras e presépios, à oficina caótica no fundo da loja onde dá as pinceladas finais nuns cabelos louros. O presépio tem longa tradição secular em Nápoles e ali perto, na Via San Gregorio Armeno, sucedem-se lojas e lojas de artesanato com presépios inteiros e figuras de mil tamanhos (alguns à escala real e, neste caso, trocam-se as personagens da Natividade por jogadores de futebol, políticos ou o Papa).

Sobre a ombreira da porta, Francesco mostra-nos, orgulhoso, as fotografias emolduradas que retratam o encontro com Luciano Pavarotti, folheiam a meias um livro de partituras. “Mio amico”, repete no rápido dialecto local que custamos a perceber. Durante 40 anos, Francesco trabalhou no Conservatorio di San Pietro a Majella, logo ali ao lado, e há 16 anos que tem a loja de presépios. No entanto, nunca mais largou a “musica antica”, que põe teimosamente a tocar todos os dias no pequeno estabelecimento.

Ali próximo, entre as ruas do centro histórico, concentram-se algumas das igrejas mais interessantes (e turísticas) da cidade. Logo ao início da Via dei Tribunali, a igreja de Santa Maria delle Anime del Purgatorio ad Arco esconde na cave um sinistro culto aos mortos, com caveiras e esqueletos rodeados de oferendas. Um pouco mais à frente, encontramos a fachada em restauro da San Lorenzo Maggiore; numa rua abaixo, o Museo Cappella Sansevero (destaca-se a estátua em mármore de Cristo velado), a frontaria de pedra negra e pontiaguda da Guèsu Nuovo (que nos faz lembrar a Casa dos Bicos, em Lisboa) ou a igreja de Santa Chiara, com o seu claustro ajardinado (símbolo da reconstrução da cidade no pós Segunda Guerra Mundial).

Três ruas a seguir à Via Duomo (onde fica a catedral principal da cidade, que dá nome à rua e merece uma visita), uma imagem menos religiosa, mas digna de postal cliché: cordas e cordas de roupa a secar atravessam em ziguezague a estrada da Via delle Zite. Num dos cordões mais baixos, um lençol branco quase roça o tejadilho dos carros.

Fazemos uma pausa ao andarilho com uma pizza na Di Matteo – uma das melhores pizzarias da cidade, garantem-nos (ali comeu Bill Clinton, em 1994, um ano depois de chegar à presidência dos Estados Unidos, atesta uma enorme fotografia na parede do fundo). Na vitrina sobre o passeio, há margueritas já prontas e toda a espécie de fritos (de crocchè – croquetes de batata – a frittatina – recheio de macarrão, queijo e um género de molho bolonhesa, entre outros).

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