Não estamos longe da embaixada portuguesa, tão-pouco do consulado, e é tempo de escutar histórias de alguns ilustres portugueses em Paris. Os irmãos Pereire, filhos de um judeu sefardita de Peniche que emigrou para França no século XVIII e tornou-se intérprete de Luís XV, foram, no século XIX, grandes empresários, banqueiros, armadores, construtores de linhas férreas e de metro, construtores civis (ajudaram a dar forma à Paris de Haussman) — têm um boulevard e uma estação de metro com o seu nome. E, já no século XX, um descendente de judeus portugueses foi primeiro ministro do país: Pierre Mendès France ocupou o cargo menos de um ano mas conseguiu acabar a guerra na Indochina. “Tem uma boa imagem.”
Entretanto, já passámos sob a Torre Eiffel — “uma das primeiras coisas que fiz quando cheguei foi subir até lá cima”, confessa Carlos Pereira — e já passámos os jardins onde parisienses e turistas aproveitam os (escassos) raios de sol (apenas nos relvados laterais, os centrais estão interditos). Não há muita polícia visível, mas estamos numa das zonas mais vigiadas da cidade. Polícia visível vemos mais adiante, já perto da nova delegação da Gulbenkian: “Houve, com certeza, uma manifestação”, explica Carlos, “em Paris é normal”.
E então a Fundação Calouste Gulbenkian (Bd de La Tour-Maubourg, 39), “bem inserida na sociedade francesa” — este ano, por exemplo, é co-organizadora das exposições sobre Souza Cardoso e sobre a arquitectura portuguesa. Hoje, na delegação, prepara-se a exposição que abre em dois dias, mas no pátio mantém-se o manequim vestido por Filipe Oliveira Baptista — “vai-se degradando até desaparecer”.
Em cada canto de Paris há um pouco de Portugal, resume Carlos Pereira. Basta escavar um nadinha: desde o pintor da Torre Eiffel ao chef ou escanção de restaurantes da moda, dos directores de teatros renomados ao trabalhador da construção civil que ouvimos na rua. Há carrinhas com bandeiras portuguesas e há cada vez mais lojas-gourmet com produtos nacionais, fruto da recente “descoberta” de Portugal pelos franceses — “voltam deslumbrados”.
Paris, a gratuita
Não é uma cidade barata, a capital francesa, mas deixamos algumas sugestões de visita, livres de constrangimentos monetários.
1. O bairro do Marais, com a sua Place des Vosges, as suas lojas de novos criadores que convivem com consagradas, galerias de arte, bares e restaurantes, é um dos mais apetecíveis por estes dias — e alberga um museu gratuito, o Carnavalet, que conta a história da cidade e da sua vida quotidiana.
2. O Canal de Saint Martin, sobre o qual várias pontes de ferro se empinam (Amélie Poulain andou por aqui) e está ladeado, mais uma vez, de bares, restaurante pequenas boulangeries e boutiques de autor — quando o tempo está bom, os parisienses bobo (bourgeois e bohemian) ocupam-no ao final de tarde.
3. A Catedral de Notre-Dame.
4. O Jardin du Vert-Galant abaixo da Pont Neuf e dos seus cadeados, pequeno oásis onde ao meio-dia se traz o almoço e ao final do dia se fazem piqueniques ao pôr-do sol.