As raridades também abundam: o livro mais pequeno deste templo da literatura é o Old King Cole, cujas páginas apenas podem ser percorridas com a ajuda de uma agulha; o maior, com 1,52X2,13 metros, é uma obra a cores que contém imagens do Butão; possui também uma tábua cuneiforme que data de 2040 a.C, bem como documentos de mais de duas dezenas de presidentes dos Estados Unidos e, finalmente, um verdadeiro tesouro da biblioteca, uma Bíblia de Gutenberg, um trabalho do século XV em velino que foi comprado em 1930.
É com um sentimento de pena que se deixam aquelas escadas no interior e, já na rua, se vira as costas à sua admirável fachada, também decorada com uma bonita escadaria.
Sydney, Austrália
E é com um sentimento de prazer que se entra na soberba Biblioteca Pública do estado de Nova Gales do Sul, em Sydney, na Austrália, e quando, durante alguns minutos, se lança olhares, desde um patamar superior, à sala de leitura Mitchell, com o seu tecto envidraçado e os seus livros ameaçando tocar-lhe. Mitchell é, na verdade, uma das três alas que formam a biblioteca, ficando a dever o seu nome a David Scott Mitchell, que doou a sua valiosa e enorme colecção ao povo de Nova Gales do Sul, impondo como condição que fosse erguida uma biblioteca separada para a albergar.
Por essa altura, no virar do século XIX, já o espaço se mostrava reduzido para abrigar um cada vez maior número de obras e o legado proporcionado por David Scott Mitchell serviu como estímulo para se darem início aos trabalhos que se prolongaram por quatro anos, entre 1906 e 1910, tornando-se no primeiro espaço, em todo o país, com conteúdo exclusivamente australiano.
Embora com outra designação, a biblioteca (que também foi conhecendo diferentes localizações) nasceu em 1826, para satisfazer os desejos de colonos desesperadamente à procura de um livro para lerem. Mergulhada em dívidas, foi comprada pelo governo de Nova Gales do Sul em 1869 por uma quantia irrisória e abriu as suas portas em Setembro desse mesmo ano, com um total de 20 mil volumes.
Aos poucos, foi crescendo: quase vinte anos depois da conclusão das obras na ala Mitchel, era inaugurada (e ligada àquela a sul) a ala Dixson, para armazenamento e também para acolher a vasta colecção de pinturas (algumas de artistas que acompanharam James Cook nas suas viagens exploratórias) de William Dixson, um homem de negócios, benfeitor e coleccionador de, entre muitas outras coisas, mapas antigos, moedas, selos, medalhas, livros e manuscritos, a maior parte focada na Australiana (tudo o que diz respeito à Austrália e às suas origens) mas também com itens europeus.
Ao mesmo tempo, a biblioteca ganhava beleza estética no seu interior, tanto na ala Mitchel, como na Dixson, onde muitos olhares se concentram no pórtico e no vestíbulo, especialmente neste último, com uma reprodução do mapa da Tasmânia em mosaico de pedra.
Bem mais recente é a ala conhecida como Macquarie Street, por estar virada para esta rua. Inaugurada apenas em 1988 (após cinco anos de trabalhos), numa cerimónia a que assistiram a rainha Isabel II e o princípe Philip, está ligada à ala Mitchell por uma ponte e por passagens subterrâneas, um projecto que teve a assinatura do arquitecto Andrew Andersons, nascido em Riga, na Letónia, mas que se mudou para a Austrália com a sua família quando tinha sete anos.