Apontada como o principal centro de sabedoria do mundo antigo, a biblioteca de Alexandria foi fundada por Ptolomeu Soter no século III a.C. (pouco depois da própria fundação da cidade, por Alexandre, o Grande), tendo como primeiro director Zenódoto, que mais tarde cedeu o lugar a Apolónio de Rodes, se bem que, na realidade foi o poeta Calímaco quem tratou de arranjar fundos para tornar possível a sua consulta, dedicando anos da sua vida a materializar um catálogo composto por 120 livros conhecidos como os Pinaces.
Num tempo, admite-se que a biblioteca abrigava mais de 700 mil volumes mas com mais certeza se pode afirmar que este palco, numa urbe que chegou a rivalizar com Roma, teve um papel determinante como estímulo para alguns dos avanços registados na época, atraindo eruditos de todo o mundo — Herófilo chegou à conclusão de que a cabeça, e não o coração, era o lugar do conhecimento, Euclides desenvolveu a geometria, entre outras descobertas importantes.
Acompanhando e beneficiando do crescimento económico de Alexandria, porto estratégico nas rotas entre a Ásia e a Europa, a cultura foi ganhando o seu espaço: Marco António aumentou a colecção com livros provenientes dos reis de Pérgamo mas não tardou muito (no ano 48 antes da nossa era) até que César chegasse e transformasse tudo em cinzas. Reconstruída, a biblioteca voltou a ter as suas estantes preenchidas mas em 391 (há autores que apontam o ano de 640) tiveram uma vez mais como destino uma fogueira.
Alexandria mudou, há menos de 80 anos tinha uma população que não ultrapassava os 300 mil habitantes; hoje são mais de quatro milhões. O mesmo sucedeu com a biblioteca que, com o apoio da UNESCO, ocupa agora parte de um espaço de 80.000 m2 na zona onde supostamente se encontrava a antiga, em Selsela, na Corniche tantas vezes comparada ao Malecón de Havana, dominando o velho porto e expondo-se à luz tão clássica do Mediterrâneo.
Após um concurso internacional, em 1989, para a selecção do melhor projecto, a vencedora foi a firma Snohetta (nome de uma montanha no centro da Noruega que serve de cenário para o palácio Valhalla na mitologia norueguesa), que acabara de se estabelecer (nesse mesmo ano), tendo como figuras máximas Craig Dykers (nascido na Alemanha) e Kjetil Thorsen, autores de outros projectos mediáticos como o Memorial ao 11 de Setembro no lugar do World Trade Center e a transformação da Times Square numa área pedonal, ambos em Nova Iorque, bem como as aclamadas obras do Ballet Nacional Norueguês e a Casa da Ópera em Oslo e, mais recentemente, das novas notas de coroas norueguesas.
Com 11 andares, a nova Biblioteca Alexandrina tem espaço para mais de quatro milhões de volumes de livros, uma capacidade que pode aumentar para o dobro desde que se obedeça a uma arrumação mais compacta (para a qual está preparada) e tem ainda outras funções culturais e educacionais, como um planetário (uma estrutura separada e esférica situada junto à praça), alguns museus (como o dos manuscritos e de antiguidades) e uma escola de ciência de informação — não deixe de admirar a exibição permanente Impressões de Alexandria, que traça a existência da cidade através de pinturas, mapas e fotografias e, incluído no preço, uma visita guiada pela história da antiga biblioteca e o conceito e significado da que foi inaugurada em 2002.