Fugas - Viagens

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Devemos muito à Grécia, incluindo uma visita

Mais estranhos, para os portugueses, são os horários do comércio, que funciona das 8h às 14h e que só às terças e quintas reabre das 17h às 20h. Nalguns sítios, os mais frequentados por turistas, as lojas permanecem abertas por mais tempo, reabrindo após a sesta ou nem fechando após o almoço, atendendo os clientes até às 23h. É assim, por exemplo, no bairro de Plaka, aos pés da Acrópole, e facilmente acessível desde a Praça Sintagma, descendo a Rua Ermou — uma artéria muito comercial, mas com o mesmo tipo de estabelecimentos que encontramos em qualquer cidade europeia.

É nas ruas de Plaka, cheias de pequenas lojas, cafés e restaurantes, com destaque para as tradicionais tavernas, que encontramos o contraponto urbano às largas avenidas de gente apressada e trânsito intenso, nas quais impressiona a quantidade de pessoas que se deslocam em scooters e motas a alta velocidade e sem capacete, que não é obrigatório. Será da combinação entre estas duas atmosferas que se construirá a percepção — ou mais provavelmente, a presunção — de se estar a captar a essência de Atenas.

Que passa também passa por pormenores como o copo de fredo expresso ou fredo cappuccino que os atenienses trazem tantas vezes na mão. A nós parecerá uma heresia que um povo que se diz apreciador de café o consuma gelado, em copos de plástico com palhinha, a maior parte das vezes com leite misturado. Os gregos responderão que não temos tanto calor como eles.

A verdade é que estas bebidas são uma presença cada vez mais importante no seu quotidiano. Escolhem-se os cafés aonde se vai em função da qualidade e do preço do fredo cappuccino. Que pode ser de 3,50 euros, para levar, e muito mais se for para ficar a ocupar uma mesa, no interior ou na esplanada do café. De qualquer forma, estes produtos, que vemos em muitas mãos, são mais do que uma bebida para os gregos. São uma companhia para um bom bocado de tempo, um copo que os acompanha nas deslocações a pé e de transportes públicos, que os acompanha até no trabalho, quando compatível.

Um hiato

A presunção de que é fácil captar a essência de Atenas também tem a ver com o preconceito de que esta é uma capital com pouco para ver. Compreende-se que uma cidade que se estende aos pés e à volta de algo com a importância da Acrópole dificilmente poderá guardar algum património que se lhe compare. E também é verdade que, em Atenas, quando saímos do domínio do arqueológico, o património que vemos, a partir da rua, parece relativamente recente. Como se a cidade tivesse dado um salto da Antiguidade para os séculos XIX e XX.

Talvez isso tenha a ver com o facto de a Grécia ter sido conquistada em meados do século XV pelos otomanos e de ter permanecido sob o seu jugo durante nada menos do que quatro séculos. Foi um período que, em nome do orgulho nacional, os gregos fizeram por esquecer, tentando apagar até da própria língua boa parte das inevitáveis influências de quase 400 anos de aculturação.

Na guerra da libertação participaram artistas e intelectuais ocidentais, como o bem conhecido dos portugueses Lord Byron. O poeta inglês, que também andou por Sintra, é um herói nacional na Grécia, onde morreu com 36 anos (em Missolonghi) e tem um monumento em Atenas. “Vyron”, Byron em grego, tornou-se um nome próprio masculino popular no país e existe até uma localidade, nos arredores de Atenas, cujo nome, Vyronas, presta também homenagem ao poeta, que foi sepultado em Inglaterra mas sem o coração, que — numa solução muito ao gosto da época — ficou na Grécia.

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