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Eslovénia, por entre castelos encantados

- Conta outra vez.

Poliksena terá roubado os agricultores até ao último centavo mas, provavelmente num acto de arrependimento, conduziu os seus passos para os cofres onde, ao longo dos anos, acumulara uma fortuna considerável, em prata e ouro. Com o ouro, mandou fazer um sino que deveria ser transportado para a igreja no meio daquela que é a única ilha natural da Eslovénia.

Era um dia de tempestade.

O barco, com a sua tripulação e o sino, afundou-se.

O lago não tem uma profundidade superior a 30 metros e o sino estará algures na lama que se acumula no fundo. Nos dias em que o silêncio impera, ainda se podem ouvir as suas badaladas.

Pode ser verdade.

Poliksena, no seu eterno pesar, doou parte da sua fortuna à igreja e instalou-se num convento, em Roma. Um dia, o papa ouviu tão dramática história e, comovido, enviou um sino para a pequena igreja no meio do lago Bled.

Quem tocar o sino, pedindo uma desejo a Santa Maria, será correspondido.

Pode ser verdade.

Ao longe, ainda avisto a escadaria que desagua na igreja barroca. Manda a tradição que o noivo carregue a noiva até ao cimo, até à porta da igreja. Se o fizer, provavelmente contando uma a uma as 99 escadas, o casal viverá feliz.

Pode ser verdade.

- Conta outra vez.

Do castelo, a panorâmica fica gravada na memória com a mesma facilidade com que um postal de Bled pode ficar esquecido numa gaveta. Os Alpes Julianos, a cadeia montanhosa de Karavanke, o lago, com as suas águas serenas polvilhadas de pletnas, a ilha romântica – tudo o que nos rodeia convida-nos a virar as costas ao castelo que, mais do que um símbolo de Bled, é um símbolo da Eslovénia, com o seu estatuto de castelo mais antigo do país. Já em 1004, há mais de mil anos, o rei alemão Henrique II atribuiu os domínios de Bled, na província então conhecida como Carniola, ao bispado de Brixen. A figura suprema da igreja era Albuin, mais tarde substituído no cargo por Adalberon, a quem o mesmo monarca cedeu o castelo no cimo do penhasco – Veldes, como era designado pelos alemães -, conforme atesta uma carta de 1011, a primeira referência histórica ao imponente conjunto que foi passando de mão em mão até aos nossos dias.

Propriedade de Brixen, os seus representantes praticamente nunca colocaram os pés em Bled, talvez por temerem os seis dias de caminho para percorrer 300 quilómetros puxados por quatro cavalos ou os perigos que se escondiam ao longo dos vales durante o trajecto. Esta ausência, acrescida do facto de a propriedade ser alugada com frequência, explica, pelo menos em parte, uma certa orfandade do interior, sem móveis valiosos, sem grande valor histórico – e muitos anos mais tarde, no século XIX e já depois da ocupação francesa, nem com o regresso do bispado de Brixen a situação se alterou.

Os altos custos de manutenção do castelo, associados ao fim da lei feudal, apressaram a sua venda a industriais, mais tarde a mercadores e ainda a homens de negócios ligados à indústria hoteleira, megalómanos que, tendo comprado também o lago e a ilha, não tardaram a ver todo o complexo confiscado pela banca. Finalmente, em 1947, um incêndio destruiu grande parte do telhado do edifício mas, cinco anos mais tarde, com a assinatura do arquitecto Tone Bitenc, um discípulo de Jože Plecnik, iniciaram-se as obras de restauro, que haveriam de se prolongar durante quase um decénio mas que conferiram modernidade ao lugar e uma vocação para seduzir turistas que até esses dias não conhecera - e mesmo grandes figuras da vida política, atraídas por aquela paisagem inigualável, pela serenidade que sobe do lago e das montanhas tão bem recortadas contra o céu que por agora permanece azul.

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