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Eslovénia, por entre castelos encantados

Por Sousa Ribeiro

A Eslovénia acolhe mais de uma centena de construções que, na sua maior parte, serviram os senhores feudais. Hoje, estão transformadas em mansões, em hotéis, em museus mas quase todas oferecem admiráveis panorâmicas sobre um território que se veste de verde.

- Perto da minha cidade, em Crnomelj, também há um castelo, o de Otocec (sobre uma ilha do rio Krka, tendo inspirado vários escritores eslovenos), onde se celebrou o casamento de um primo meu, uma cerimónia bonita e romântica que decorreu no interior, por entre uma decoração ao estilo antigo, como supostamente deveria ser em tempos imemoriais.

Tina Križman fita o céu, como se a abóbada do mundo lhe devolvesse essa época, sorri e continua, sem que a deixe interromper.

- Mas é este castelo o que mais me atrai em todo o país. Não está longe de Ljubljana, é o ideal para um passeio de um dia, tem um vista soberba sobre o lago e, com os meus amigos, posso sempre alugar um barco antes de, ao final da tarde, saborear uma blejska kremsnita, um doce típico de Bled, para tornar ainda mais doce o dia.

A pletna, com o seu toldo colorido, sulca as águas, o homem, de braços fortes e mãos gordas, recorta-se na popa contra o céu sem um único fio de nuvens e, com agilidade, o rosto emoldurado por um esgar de esforço, rasga aquele manto esmeralda com os remos de madeira, pintados de um azul forte numa das extremidades. Encimando a colina, sobre um rochedo cinzento pelo qual trepa a vegetação, o castelo é como uma sentinela do lago, um dos quadros mais harmoniosos deste país moldado pelos Alpes e pelo Adriático, com pouco mais de dois milhões de habitantes e uma área ligeiramente superior a 20 mil metros quadrados (Portugal tem quase cinco vezes mais).

A pletna aproxima-se da pequena ilha no meio do lago glacial, dominada, ao cimo de uma escadaria, pela igreja da Assunção. À direita, continuo a avistar o castelo, majestoso a 130 metros de altura, as montanhas escurecidas como fundo e, mais para baixo, por entre os ramos irregulares das árvores, uma igreja de cujo campanário sobe uma agulha, como um grande chapéu cónico. Um menino, com uns olhos de um azul-vivo, vai escutando da boca da mãe histórias de bruxas que não lhe provocam qualquer temor. No seu imaginário, o castelo, no topo, serve de cenário para a ficção. E ele ergue um olhar angustiado perante a ansiedade de caminhar por aquela varanda que se atira sobre o lago. 

- Conta outra vez, roga, com uma insistência que apenas é quebrada quando o pai, segurando-o pelas pernas, o ajuda a tocar o sino da igreja, cumprindo uma tradição.

Mas logo os seus olhos dançam de novo pelo castelo.

- Conta outra vez.

Corria o ano de 1500, mais ano menos ano, o castelo era por essa altura administrado por Hartman Kreigh, um homem duro que, encorajado pelo regime de opressão da igreja e da realeza, privava os lavradores de todos os seus direitos. Um dia, Hartman Kreigh desapareceu, sem deixar rasto, alegadamente morto por ladrões, na pior das hipóteses vítima do descontentamento daqueles sobre quem abusara, ao abrigo da sua autoridade. Reza a lenda que a mulher, agora viúva, também governava com firmeza.

A pletna, cumprindo o percurso de volta, aproxima-se da margem do lago e a criança, como quem entoa um refrão, não se cansa de ouvir a história.

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