Žužemberk
O rio Krka corre silencioso e na margem esquerda, mal ergo o olhar, avisto o castelo projectando-se, como uma varanda, sobre a pequena cidade que é também município dos Alpes Dináricos. Os romanos construíram uma estrada que passava pela região, Žužemberk aparece pela primeira vez reportada em documentos em 1246 mas admite-se que a existência do castelo é bem mais antiga, recuando ao ano 1000 – e à volta dele foi crescendo a localidade, em tempos remotos habitada por camponeses e artesãos.
Pouco depois do primeiro quarto do século XVI, o castelo adquiriu uma nova forma, com a suas sete torres defensivas que lhe conferiram mais poder e o tornaram apetecível entre a nobreza, ao ponto de não tardar a ser adquirido pela família Auersperg – Janez Vajkard I Auesperg, tutor do Imperador Ferdinand III, foi um dos seus proprietários. Na mira de constantes ataques (alguns soldados, mortos durante as lutas, foram lançados nas florestas próximas para serem devorados por animais selvagens), o castelo nunca chegou a ser verdadeiramente destruído, nem durante a II Guerra Mundial (ao contrário da pequena igreja), quando se tornou uma fortaleza das tropas italianas e esteve sob fogo constante dos Aliados (começou a ser restaurado em 1960 e acolhe actualmente eventos turísticos e culturais).
Bogenšperk
Os castelos surgem nos lugares mais insuspeitos e conferem uma identidade própria ao país. Enquanto isso, estou cada vez mais próximo de Ljubljana.
Como um rio aproximando-se do leito, deixo-me conduzir sem pressas. Passo Litija e não tardo a chegar a Dvor, uma pequena povoação onde também não falta um castelo, cuja data de construção é desconhecida mas que está fortemente associado ao historiador Janez Vajkard Valvasor. No castelo, adquirido após ter contraído matrimónio, este polítama gastou quase toda a sua fortuna para ver publicados os seus livros (o mais famoso dos quais é A Glória do Ducado de Carniola, publicado em 1689 em 15 tomos, com um total de mais de três mil páginas e mais de 500 ilustrações), criando uma oficina onde podia escrever, desenhar e imprimir os seus trabalhos - e com tão pouco sentido de negócio que não tardou a ver-se obrigado a vender todo o seu espólio (livros e pinturas) e o próprio conjunto que tratara de remodelar, com a construção de uma adega nas caves e de uma capela dedicada à Virgem Santíssima.
Hoje, a antiga e rica biblioteca de Janez Vajkard Valvasor não acolhe livros mas casamentos (o local é muito popular entre os eslovenos) mas o castelo permanece como um bom exemplo do estilo Renascentista, com as suas quatro torres, duas rectangulares e duas cilíndricas, com os seus brasões nas fachadas, uma bonita varanda de madeira e uma nova capela (desde 1991) no piso térreo.
No exterior, sob uma luz agora impiedosa, a sensação de quietude é inigualável. Olhando Dvor, desde a crista, tenho dificuldade em apontar um dos poucos mais de cem habitantes errando por este território órfão de ruídos. Mas não de um castelo.
Ljubljana
O funicular sobe, os olhares dos turistas parecem perdidos, procurando absorver tudo o que lhes é dado a ver. Eu prefiro caminhar, são pouco mais de dez minutos desde a praça Grojni onde fui observando, pausadamente, as casas medievais; o verde acompanha-me, dá um abraço ao castelo e, uma vez no cimo da colina, atiro os olhos para baixo, para os campanários que sobem no céu, para a ponte tripla, para uma cidade bem desenhada. Mais do que o castelo, é a paisagem no sopé, com os seus tons coloridos, atravessada pelo rio Ljubljanica, que incita à ascensão ao topo.