Fugas - Viagens

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Os mais belos recantos da ilha cosmopolita

Ares de aldeia

No terminal, o formigueiro humano aumenta consideravelmente mas, por entre o aparente caos, tudo está bem organizado. Em poucos minutos estou sentado num pequeno barco que não tarda a rasgar as águas e a atracar, daí a instantes, no cais de Cagban, banhado por um sol que doura tudo à sua volta, numa atmosfera colorida que adquire maior expressão graças a uma moldura composta por águas cristalinas e a uma densa vegetação.

Um triciclo conduz-me pela estrada e trepa com dificuldade uma suave encosta, de um lado e do outro casas pequenas, lojas de comércio, um constante vaivém de pessoas e veículos motorizados, a vida em toda a sua efervescência a marcar o ritmo da ilha e a despertar todos os meus sentidos. O motorista, desconhecendo a localização do hotel que lhe indicara, pergunta aqui e ali, embrenha-se por uma rua estreita, os prédios muito juntinhos, como se receassem o frio, os cheiros fortes a comida sobem no ar mas logo são substituídos pela brisa silenciosa que chega do mar – e que mar, que areia, que cenário, ébrio de beleza, se planta à minha frente, agora que o sol se prepara para ser engolido e desenha silhuetas de corpos e de barcos contra o céu crepuscular e as águas que se semelham a uma longa folha de ouro estendendo-se até à linha do horizonte. 

- Quer alugar um barco para visitar as ilhas?

A pergunta, feita naquela manhã, haveria de repetir-se por muitos dias, mas agora o barqueiro, quase sempre de olhos postos no jornal, sabendo das minhas intenções, colocava-a apenas como pretexto para iniciar mais uma conversa, enquanto até nós chegava o suave murmúrio das ondas e as vozes que se escutavam mas cujas palavras não se distinguiam.

Boracay tem hoje, mais de dois decénios depois de Michaela Davenport por ela se ter apaixonado, um grande número de turistas (um milhão e meio por ano), especialmente chineses e sul-coreanos, mas a ilha, mantendo todos os seus encantos naturais, começa a dar ares de aldeia ao fim de uma semana, quando Ralph Nandiego, montado na sua motorizada e regressando do mercado a caminho do seu pequeno restaurante, buzina e acena efusivamente ou quando, no espaço de pouco tempo, os meus passos se cruzam, pela terceira vez e em lugares distintos, com Masatomo Toyoshima, um japonês de Kobe seduzido pelo vento forte que varre a praia de Bulabog e que lhe permite, a ele e a algumas centenas mais, praticar windsurf e kiteboard.

Para a maior parte dos turistas, Boracay resume-se a uma extensão de areias finas e águas de um azul-turquesa – a White Beach – que vai quase de um extremo ao outro da ilha, um trajecto que se percorre facilmente em pouco mais de 30 minutos ao longo de um caminho de terra batida decorado com palmeiras que se debruçam sobre as praias, um número inusitado de bares, restaurantes e hotéis e as suas esplanadas que, à noite, tanto atraem viajantes que se entregam à comida como se nem um dia mais lhes restasse no horizonte da vida e outros que, à luz ténue de uma vela, tornam o jantar num momento romântico, sob todas as estrelas do mundo, apenas com o marulho das ondas invadindo essa privacidade tão íntima.

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