Julgando-me um intruso, Lourdes Tamboon aborda-me e depois por ali fica, à conversa. Ela é a professora da comunidade - a escola está situada a curta distância mas fora da aldeia.
- Alguns simplesmente não querem frequentar a escola ou desistem ao fim de algum tempo, talvez porque são pouco estimulados pelos pais.
Sentado num banco de madeira, um homem, colonizado pelo álcool, cabeceia um sono a meio da manhã. A indolência dos mais pequenos estende-se, pelo menos em alguns casos, aos adultos, mas esta é uma realidade que pode ser analisada segundo duas vertentes: por um lado, os negritos, como os espanhóis designaram este grupo étnico (devido à cor da pele, de um castanho escurecido) que habita o arquipélago há milhares de anos e que são geneticamente comparados aos aeta de Luzon, aos batak de Palawan, aos agta de Sierra Madres ou aos mamanwa de mindanao, são vítimas de discriminação e encontram sérias dificuldades no acesso ao mercado de trabalho – há excepções, mas a maior parte apenas consegue um emprego na indústria do turismo (que em Boracay gera milhões e milhões de pesos) com a ajuda das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo; por outro, como beneficiam de alguns apoios governamentais (as casas onde habitam, na aldeia, foram construídas pelos militares), sentem-se pouco motivados e não raramente as mulheres e os seus filhos mais pequenos são vistos nas ruas de Boracay, estendidos nos passeios a mendigar uma esmola aos turistas, aos mesmos que agora ocupam um espaço que lhes pertencia e onde, definitivamente, sentem dificuldade em integrar-se.
Tudo o vento levou
Quando a manhã está prestes a esgotar-se, deixo a aldeia mas comigo carrego a memória de muitos sorrisos das crianças e é nessas expressões dóceis que vou pensando enquanto o triciclo me transporta até um dos extremos da ilha, pouco vocacionado para o turismo em certos períodos da época seca devido à fama de ser assolado por ventos fortes.
Ao fim de uma descida íngreme, o mar surge, em todo o seu esplendor, há apenas uma barraquinha de bebidas, areia despida de gente e sobre a qual repousa um barco, coqueiros e ilhotas povoando águas de um azul que magnetiza o olhar. Caminho para a esquerda e, abrigada numa rocha, vejo uma casa modesta, construída com pedaços de madeira e chapas de zinco, ao lado de uma espécie de gruta onde, ao centro, está alinhada uma mesa de madeira. Entre uma e outra, está uma bancada rudimentar que expõe alguns aperitivos e bebidas e, como fundo, uma menina que, mergulhada naquele silencioso remanso, dorme um sono profundo, com a cabeça deitada numa almofada.
Não corre uma brisa. Ocasionalmente, um turista ou outro caminha junto à linha do mar que acaricia a areia. Do interior da casa, sai um homem calvo, rosto tisnado, uns olhos negros, em tronco nu. É Tilo Casidsid, o avô da pequena Geneva, que desperta quando ouve as nossas vozes.
- Fica aqui connosco, quando chega da escola, até que os pais a venham buscar, mais ao fim da tarde.
Peço uma cerveja, regresso à toalha e, a meio da tarde, despeço-me de Tilo Casidsid, com a promessa de voltar, dentro de três dias, à praia de Ilig-Iligan. Sinto que Tilo Casidsid acredita em mim mas não consigo obter uma expressão sorridente de Geneva.