Fugas - Viagens

  • Sousa Ribeiro
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Os mais belos recantos da ilha cosmopolita

Essa faixa, a quase todo o comprimento, recebe nomes tão pouco exóticos como station one, station two e station three. É nesta última que me instalo e é nessa que o mundo corre mais devagar, uma realidade que observo logo na primeira noite, quando as trevas se impõem e exacerbam os silêncios ou quando, como na manhã seguinte, desperto com o canto madrugador de um galo ou o silvo dos pássaros anunciando-me mais um dia.

Uma manhã com os ati

A praia, onde é proibido fumar, deixa-se abraçar pela serenidade tão apaziguadora das ondas dóceis, de um céu luzidio, de barquinhos coloridos; dali à estrada principal, o coração da ilha que nunca pára de pulsar, com o trânsito por vezes demasiado congestionado, são breves minutos e desta até ao outro lado, para norte, não são muitos mais, ao longo de caminhos em que a identidade dos locais se revela, traçando retratos de uma existência que pouco ou nada mudou nos últimos anos – nas suas casas modestas a roupa está a secar, os porcos andam por ali, um ou outro está já no espeto, pronto para ser assado, e torna-se impossível contar o número de galos, tão populares não só em Boracay como em todo o país, de tal forma está enraizada a cultura das lutas e das apostas.

Embora já um pouco hostil à natureza, face ao número de construções que mancham a paisagem, Bulabog, mergulhada numa luz sem piedade, atrai de imediato, com o seu caleidoscópio de cores que se recortam sob um céu com algumas nuvens. Homens e mulheres andam para cá e para lá, ao longo da praia, sulcando as águas e deixando-se conduzir pelo vento que sopra com força e transforma Bulabog, fortemente abalada, em 2008, pelo tufão Fengshen, numa verdadeira meca do windsurf e do kiteboard. Sentado numa esplanada sobre as areias, assisto a estes movimentos, alguns deles mais acrobáticos do que outros, dependendo do grau de experiência de cada um – há quem voe sobre as águas, há quem se passeie simplesmente, sem tempo para contar as quedas, inevitáveis durante o processo de aprendizagem, uns e outros contribuem para o espectáculo e para prenderem as atenções de quem se limita a lançar olhares.

Bulabog acolhe muito menos turistas do que a parte sul da ilha mas não muito longe, numa estrada movimentada, um outro lugar, cheio de história e de histórias, vive praticamente órfão da presença deles. Mal flanqueio o portão de ferro, avisto um ícone da Virgem com o seu manto azul sobre uma base de cimento pintado de verde e ladeada por vasos de plantas. Uma mulher, de joelhos e de olhos cerrados, reza acompanhada de uma criança mais interessada nas bandeirinhas presas em cordas que dão cor à pequena aldeia envolta num halo de fumo. À direita, no rés-do-chão de uma casa, duas das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo estão sentadas atrás de secretárias e levantam a cabeça mal me recorto na moldura da porta, recebendo-me de forma acolhedora e manifestando interesse em falar do trabalho que desenvolvem, ao mesmo tempo que me concedem liberdade para andar por ali, para fotografar, para tentar dialogar com os nativos. No total, são 200 os ati que vivem nesta comunidade de Boracay e, entre eles, quatro dezenas de crianças que, no início, revelam timidez mas que não tardam em mostrar-se simpáticas e em posar para a câmara. É domingo, não há escola, limitam-se a errar sem destino, alguns nus, brincando com as suas pistolas de plástico, outros lançando a bola para o aro colocado numa tabela de basquetebol improvisada, outros ainda estão apenas deitados em bancos de madeira, numa indolência que se eterniza.

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