- É muito tímida, justifica-se o avô.
Caminho uns quilómetros, ora subindo, ora descendo, por todo o lado escuto o canto dos galos, atravesso Puka, a aldeia onde não tardará a nascer um resort, observo os motoristas de triciclos de olhos postos na televisão, num abrigo de madeira, pequenas lojas de comércio e outras onde se vende artesanato, até que desaguo na praia. E, uma vez mais, que praia!, uma enorme extensão de areia, mais barcos coloridos, o mar azul, com vagas serenas, tão impregnada de sossego. Viro à direita, pouco preenchido de turistas, e estendo-me ao sol, a ler, até que me chega, vindo de não muito longe, o cheiro a peixe grelhado – e deixo-me conduzir pelo odor, para descobrir um grupo de filipinos abrigado numa saliência das rochas e que aproveita o domingo, dia de descanso, para desfrutar daquele momento que é acompanhado de música e de muita cerveja. Fico com a sensação de que alguém, a curta distância, pronunciou o meu nome. Viro-me, um braço levanta-se para me acenar e no rosto perscruto um sorriso.
- Outra vez?
Era Masatomo Toyoshima, o japonês de Kobe, desiludido com os ventos fracos (e os preços) que sopravam em Bulabog e que, sacudido por um frémito de energia, decidira percorrer, a pé, os quase dez quilómetros que separam o centro de Boracay da praia de Puka. Agora, quando a tarde está prestes a escoar-se, caminho até ao outro lado e dali fico a observar o sol a derramar fogo à sua volta, atravesso de novo a aldeia, grato com os sorrisos das crianças que me pedem que lhes tire uma fotografia, e com o convite para que me junte, sob o alpendre de uma casa, a uma família que me estende um copo de cerveja neste final de domingo.
Uma camioneta pára, salto para a caixa aberta, percorro a parte mais elevada da ilha, os locais riem-se e acenam-me, estranhando aquela forma tão invulgar para um turista se passear por Boracay. Chego ao mercado, onde me detenho quase todas as noites, sou saudado pelas jovens vendedoras de legumes, pelas outras que trabalham no supermercado, pelos jovens e menos jovens que erguem grandes lagostas mesmo à frente dos olhos das turistas e lhes provocam risinhos assustados. Sento-me na mesa do costume, a ver o mundo a desfilar, porque o mundo vem até ao mercado – russos, espanhóis, ucranianos, suíços, alemães, italianos, argentinos, sauditas, chineses, sul-coreanos. Cristopher Alfaro fica por ali, ao meu lado, com o menu nas mãos, perguntando-me como foi o meu dia, falando sobre as transformações que Boracay conheceu nas últimas décadas.
- Lembro-me bem do dia em que cheguei à ilha, nunca tinha visto um lugar tão bonito como Boracay em toda a minha vida. Por vezes sentia saudades dos tempos em que jogava futebol com os meus amigos nas quintas de cana-de-açúcar, em Manila, mas sentia-me cada vez mais atraído por Boracay.
Cristopher Alfaro vai atender um outro cliente e regressa daí a uns minutos.
- É verdade, a ilha mudou muito, mais carros, mais construções, mais turistas. Coisas boas e más foram acontecendo ao longo dos últimos anos. Mas, para mim, Boracay continua a ser um lugar maravilhoso para relaxar e para desfrutar, que enche de felicidade todos os visitantes e satisfaz as necessidades e os desejos de todos. Há quem fique feliz por se deitar nas areias da White Beach um ou dois dias, no meio de centenas de turistas; tu estás aqui há mais de duas semanas e continuas a descobrir lugares solitários e que nem eu conheço.