Fugas - Viagens

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O Natal cheira a amêndoas torradas e vinho quente

O mais antigo edifício da cidade é uma torre, “dos ladrões”, que faz parte das muralhas — tinham 700 metros, as que sobrevivem são parede de casas — e data de 650. Começou por ser local de refúgio e depois passou a prisão. Escapou à destruição da cidade no século XIV, numa altura em que foi disputada por vários poderes — nem o castelo sobreviveu, embora a reconstrução dos séculos XIV, XV e XVI tenha mantido a sua planta, mas com casas. É no antigo pátio do castelo, agora repleto de bancas de madeira, e com uma “pirâmide de Natal” enorme — uma estrutura de madeira, como um carrossel, com vários níveis, cada um representando motivos cristãos ou seculares relacionados com a vida nas montanhas (a sua origem é precisamente essa, só depois foi adaptada para o Natal) e com uma hélice no cimo — que encontramos Werner, a vender objectos de madeira (como colheres de pau e outros utensílios de cozinha) e cortiça (mochilas, carteiras, porta-moedas...), o que não é tão comum nos mercados de Natal alemães.

Mas Werner vive no Algarve há 28 anos e vem à Alemanha durante três semanas no Natal, para os mercados, e um mês no Verão, “para fazer alguns festivais de música”, conta-nos. É aqui que, às 18h em ponto, uma banda começa a tocar músicas de Natal, em frente à adega histórica onde todo o artesanato e jóias são locais, mas, entretanto, já visitámos a sinagoga, pequena, que é também um museu. Foi-o apenas, aliás, durante muitas décadas. Datada de 1791, foi saqueada na infame “Noite de Cristal”. “Só não foi incendiada porque os habitantes recearam que o fogo se alastrasse ao resto da cidade”, conta o guia. Os judeus locais foram deportados e não mais voltaram. Em 1978, um rabi de visita propôs a criação de um museu, o que foi concretizado, com objectos do quotidiano, religiosos e documentos sobre a vida dos judeus locais. Entretanto, o museu voltou a ser local de culto, uma vez que alguns judeus regressaram vindos das antigas repúblicas soviéticas — 17 é a comunidade.

E quem diria que numa pequena cidade íamos encontrar um antigo campeão mundial de pastelaria? Bernd Siefert limitou-se a seguir o negócio de família — na restauração há 800 anos — e depois de ter trabalhado em Paris e Zurique, por exemplo, regressou às origens e agora tem uma pastelaria, Konditorei Siefert Confiserie, de onde se enviam chocolates, bolos, bolachas e pastelaria para todo o mundo. Os christstollen nach Dresden, uma especialidade de Natal criada há 650 anos em Dresden, não param de sair, assim como variações: rosmain stollen e potato stollen (os stollen são bolos secos com frutos secos cobertos por açúcar em pó).

E se o Glühwein está por todo o lado, aqui opte-se por um Heisse Oma (“avó quente”) ou Heisser Opa (“avô quente”): o primeiro é cacau com amaretto e chantilly, o segundo leva rum em vez do amaretto. Não há frio que resista. Mas se é frio que se pretende, não faltam champanhe e ostras...

Erbach im Odenwald

Não há cheiros a bebidas ou comidas quentes em Erbach im Odenwald, cidade “rival” de Michelstadt e igualmente pródiga em arquitectura de enxaimel. Isto porque a visitamos de manhã e o mercado de Natal é apenas uma série de barracas fechadas. O Natal é o pretexto, mas a visita é cultural — e rápida. A primeira paragem é na Odenwa¨lder Kunstto¨pferei, a mais antiga olaria da região na mesma família desde 1609. “Mas provavelmente já trabalhávamos o barro antes”, diz Bernd Do¨nig, o mestre e proprietário. Trabalha com o filho e a mulher e mais uma funcionária, que pinta as peças. Mas até chegarem a ela, há 13 etapas a cumprir na manufactura de todos os artigos, que vão desde as peças utilitárias às meramente decorativas. Não temos oportunidade de ver o processo, “esta é altura de venda, não de produção”, explicam-nos — apenas a última etapa em que Frau Heckmann pinta as flores tradicionais em cores que ainda estão suaves, nada parecidas com a intensidade colorida das peças finais, depois de terem sido esmaltadas. Trabalha à janela e fá-lo apenas há seis anos: antes pintava apenas em papel, mas quando a senhora que trabalhava aqui antes se reformou decidiu tentar. “Aprendi tudo com ela”, conta, enquanto pinta sem qualquer esquema as canecas. Esta é uma das poucas olarias tradicionais que sobrevivem, quando nos tempos antigos havia em todas as aldeias, porque a grés e o barro eram abundantes. Agora, a matéria-prima vem de fora e a concorrência é tremenda: por exemplo, não vendem nos mercados de Natal porque aí as peças são feitas por máquinas e os preços demasiado baratos.

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