Fugas - Viagens

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O Natal cheira a amêndoas torradas e vinho quente

No Castelo Erbach já não há poder condal desde 1806, mas o último governante deixou uma marca indelével na cidade. Franz I foi um ávido viajante, um coleccionador de arte e escultor de marfim e esse legado é hoje o grande motivo de atracção da cidade. Começamos pelo castelo, que tomou a forma actual, residencial, no século XVIII. Está dividido em várias áreas expositivas e se a entrada não faz parte delas não deixa de ser impressionante pela quantidade de galhadas que cobrem completamente as paredes. “Não são troféus de caça”, avisam-nos, “são o resultado da queda natural que todos os cervídeos experienciam a cada ano”. Quem as encontrasse tinha de entregá-los aos condes. Porém, iremos ver a galeria dos veados, usado para cerimónias: as cabeças aí expostas são produto de caçadas. Mas voltemos ao rés-do-chão, onde o hall dos cavaleiros é um mostruário de armaduras (incluindo de cavalos) e armas medievais num salão que foi dos primeiros exemplares neogóticos na Alemanha.

No primeiro andar encontramos três salas romanas, testemunho das viagens do conde a Itália, onde adquiriu a maioria das peças, algumas tendo-se reveladas falsas, como um busto de Júlio César. “A antiguidade era moda na altura”, lembra o guia. Havia muitas colecções privadas, mas esta é a única na Alemanha que se mantém intacta. Bustos e estátuas de imperadores romanos como Adriano, Trajano, Cláudio e até Alexandre, o Grande, um dos três bustos que existem representando-o na sua juventude, enchem as salas. De Roma seguimos para o quotidiano dos nobres no século XIX. Sucedem-se umas às outras, todas viradas para a praça do mercado, desde a sala de jantar até aos quartos mais reservados à família, com decorações que vão de porcelanas chinesas e japonesas a vasos gregos (cópias feitas em Nápoles).

É noutro edifício do complexo do castelo que descobrimos o Museu Alemão do Marfim: num exterior clássico, um interior moderno. Antes, vemos uma das artistas residentes a trabalhar o marfim (a cidade tornou-se um dos centros de aprendizagem para o esculpir) — já não de elefante, mas sim de mamute ou vegetal. O marfim chegou aqui porque o conde Franz I queria trazer prosperidade às suas terras e deu o exemplo, aprendendo a trabalhá-lo. Desde 1966, todas as peças estão em exposição, num percurso negro onde apenas elas se iluminam. São cerca de 200 vindas um pouco de todo o mundo e abrangendo vários séculos, desde a Idade Média — com especial destaque para os artesãos da região de Odenwald nos séculos XIX e XX.

Wiesbaden

A capital do estado de Hesse é uma cidade termal. Esta não é uma questão de somenos, pois molda-a na arquitectura e no urbanismo — os parques são uma constante, corredores verdes que a atravessam e rodeiam. Depois, também não é uma cidade termal qualquer: no final do século XIX e no início do século XX era o ponto de encontro da realeza e aristocracia europeias, de milionários norte-americanos, que, claro, investiram em residências sumptuosas para desfrutar não só das 26 fontes termais (27 se contarmos uma fria) mas da vida social intensa. E é assim que Wiesbaden chega aos dias de hoje, passada a decadência pós-I Guerra Mundial e a sobrevivência durante II Guerra Mundial, porque o exército americano aqui tinha uma base que permaneceu depois (foi aqui que Elvis Presley conheceu a mulher, filha de um comandante). Continua a ser cidade termal — e o turismo de saúde é um grande negócio (que o digam as princesas sauditas que são presença constante na cidade) — mas quem quiser beber a água “que cura” de Wiesbaden pode simplesmente ir à Kochbrunnenplatz, onde está a mais famosa nascente, de cloreto de sódio, da cidade. A água sai de uma rocha já amarela, castanha e verde, a 66 graus, mas junto a ela há um pequeno pavilhão com bebedouros onde se pode prová-la (ela que depois alimenta uma série de spas e hotéis das redondezas, incluindo o mais antigo da Alemanha); o cheiro aqui é intenso, a sulfatos, e a água é salgada.

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