Fugas - Viagens

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O Natal cheira a amêndoas torradas e vinho quente

Por Andreia Marques Pereira

Visitar a Alemanha durante o Advento é uma experiência mágica. Cidades, vilas e aldeias, todas têm o seu mercado, ponto de encontro privilegiado de famílias e amigos, que nem atentados como o de Berlim conseguirão apagar do espírito alemão. Barracas carregadas de artesanato, decorações natalícias, especialidades gastronómicas e bebidas quentes, salsichas assadas e canecas de Glu¨whein em muitas mãos. Nós fomos de Heidelberg a Ru¨desheim a pretexto destes mercados — mas vimos muito além.

Heidelberg

É a universidade que traz Heidelberg na boca do mundo: afinal, não só é a mais antiga da Alemanha como por lá passaram alguns dos pensadores mais influentes do ocidente. E é a universidade, de elite, que marca o ritmo da cidade, com os seus 30 mil estudantes, à beira do rio Necker. Na Alemanha, porém, Heidelberg é (também) conhecida como uma cidade romântica. Algo que nas semanas que antecipam o Natal é absorvido (e amplificado) pelo mercado de Natal, sobretudo depois que a noite cai, como é usual nestas paragens onde o Advento transforma cidades, vilas e aldeias em terras encantadas de luz e cheiros que se entranham e espantam o frio.

Em Heidelberg, o mercado de Natal são seis mercados que se sucedem nas praças que se abrem ao longo da Hauptstrasse, que, com os seus 1,6 quilómetros, é a mais longa rua pedonal do país. Na verdade, é semipedonal, e nas fachadas que transitam entre a renascença e o barroco alinham-se lojas, desde as mais tradicionais às grandes cadeias, passando por restaurantes e bares, tudo complementado por bancas de pretzels e artistas de rua. E, durante o Advento, por algumas barraquinhas de madeira que “escapam” às praças e trazem o Natal à rua principal, profusamente iluminada e com algumas montras repletas de decorações tipicamente germânicas.

É ainda durante a tarde que fazemos a primeira incursão numa das praças — ao lado a universidade, do outro lado a biblioteca universitária. As barracas de madeira já estão abertas, o carrossel (de dimensões modestas) já rodopia, a comida já se faz e come e as canecas de cerâmica com as várias bebidas de Natal (a mais tradicional é o Glühwein, vinho quente, mas a oferta vai muito para além deste) já aquecem as mãos e os espíritos. As decorações típicas, as velas, os brinquedos de madeira, os globos de neve, a roupa, os gorros e chapéus, as bolachas de gengibre, os cajus e amêndoas caramelizados — tudo se exibe entre alguns curiosos. Mas as multidões surgem quando chega a noite.

Por isso, hora de visitar a antiga Studentenkarzer (“cadeia dos estudantes”), herdeira do tempo em que a universidade tinha a sua própria jurisprudência. Mas não se tema pelos estudantes de Heidelberg: era uma espécie de troféu de guerra passar algum tempo na prisão estudantil. E vale a pena visitá-la, no último andar do edifício, onde as celas e os espaços comuns estão cobertos de inscrições e desenhos que mostram como o tempo ali passado (entre quatro dias a quatro semanas, com ida às aulas pelo meio — e com direito a visitas e presentes, de comida, vinho e charutos a mulheres) — era quase umas férias.

O castelo que coroa o centro histórico onde estamos espera-nos. Subimos de funicular e lá chegados é fácil perceber por que é que o castelo de Heidelberg, durante cinco séculos residência dos príncipes-eleitores do Palatinado, condensa uma parte do espírito do romantismo alemão. A noite já caiu completamente e a vista da cidade é desenhada pelas luzes, brilhantes nos rectângulos dos mercados de Natal, e pela sombra dos pináculos de igrejas e mosteiros que pontuam o horizonte, onde o rio é uma massa escura. Começamos por um dos lados arruinados, torres que dão para nada, paredes cujo interior são jardins. A parte central alberga uma árvore de Natal gigante e os grupos de turistas aglomeram-se neste pátio: de um lado paredes maciças coroadas de torres, do outro apenas parede e janelas ocas; em frente a parte que ainda se mantém de pé, estilo historicista.

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