Fugas - Viagens

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O Natal cheira a amêndoas torradas e vinho quente

Fundado em 1136, fica isolado numa floresta e sempre produziu vinho, tornando-se um dos maiores produtores na Alemanha — este é agora o ponto central da sua promoção. No entanto, o mosteiro vale bem uma visita além do vinho (e da gastronomia): o claustro, românico e gótico, a sala do capítulo, gótica com pinturas restauradas (onde, no filme, se discute a questão do riso), a igreja românica de três naves e transepto (onde agora se realizam concertos), o dormitório, 70 metros de comprimento; o refeitório faz parte da renovação do século XVIII e foi reformado pelo duque de Nassau para aqui receber convidados — os tectos em estuque, as paredes apaineladas são um contraste brutal com o ascetismo do resto do mosteiro. A adega medieval, escura sob pesadas abóbadas, com pipas pequenas, por detrás de grades, não pode ser visitada, mas a dos séculos XVIII e XIX alberga enormes cascos por onde podemos caminhar.

Em terra de vinho, a paragem seguinte é no Schloss Johannisberg, originalmente também um mosteiro, onde se faz vinho há 900 anos e onde se “descobriu” o vinho late harvest. Tudo por acaso, ou melhor, por um atraso — uma característica tão pouco alemã. Mas como a permissão para se dar início às vindimas tinha de ser dada pelo proprietário, que vivia a 150 quilómetros, em 1775 o emissário atrasou-se, tendo chegado dez dias depois do início previsto dos trabalhos. Quando se pensava que o vinho iria ser péssimo, descobriu-se que era o contrário. Com 14 hectares de vinhas, Schloss Johannisberg possui a distinção de ter a designação de vinhedo único, sem ter de colocar a proveniência no rótulo, um dos poucos produtores na Alemanha a consegui-lo.

Em território vinhateiro não surpreende que o nosso último mercado de Natal seja numa cidade de vinho, Ru¨desheim, em pleno Vale do Alto Médio Reno que é Património Mundial da UNESCO desde 2002 — e aqui, ou melhor, na outra margem do rio, em Bingen, começa o chamado “desfiladeiro do Reno”, o seu trecho mais visitado, graças à sucessão de castelos. Chegamos a Ru¨desheim de teleférico, vindos do alto, depois de termos visto o monumento Niederwalddenkmal, conhecido por Germania, a figura central no topo de um gigantesco pedestal (38 metros, maciços, no total), construído para celebrar a unificação da Alemanha, ou seja, a criação do império alemão, logo após o final da guerra franco-prussiana. Desenvolvendo-se em vários patamares, é um miradouro imperdível sobre o Vale do Reno, que corre abaixo, logo ao lado de Ru¨desheim. Até lá, a encosta cobre-se de vinhas, por trás é floresta de carvalhos e faias, jardins desenvolvem-se aqui em cima.

O teleférico deixa-nos mesmo no centro de Ru¨desheim, que já está cheio de gente — as luzes acesas e as barracas a preencher todos os espaços livres nas ruas estreitas. A principal, que parte daqui, Drosselgasse, é o coração da cidade velha. Descemo-la com as barracas de madeira (a primeira com os célebres küsse, algo como uma bomboca artesanal e com recheios muito variados) quase a esconderem restaurantes, bares e tabernas que tornam este o ponto mais animado da cidade durante todo o ano. A decoração natalícia (na verdade, mais de Inverno — ou seja, mais laica) é intensa e inclui bonecos de neve e renas em telhados e no final não resistimos a um pequeno desvio para o que, saberemos depois, é uma das mais emblemáticas casas da cidade, Klunkhardshof, dois andares em enxaimel, madeira pintada em cor vermelha e parede traseira constituída pela antiga fortificação da cidade — aqui está uma pirâmide de Natal, um carrossel e uma série de outras diversões para crianças.

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