Tem também ainda uma “casa da caldeira”, Ketelhuis, que mantém o nome, mas não a função: agora é restaurante, café, bar, sala de espctáculos. Terá sido uma das pioneiras da conversão da cidade proibida, industrial, em Strijp-S, a vanguarda. Instalou-se aqui há cinco anos e meio: “Nos primeiros dois, três anos, não havia nada aqui”, recorda Mark Trash, “podia disparar-se um canhão e ninguém ouvia”. “O motivo para começar o negócio quando não havia nada foi precisamente trazer vida a esta zona”, explica. “Na altura creio que olhámos para Nova Iorque: se instalarmos artistas e pessoal criativo em áreas onde ninguém quer viver pode atrair mais pessoas.”
Neste plural entra um português, André Amaro, figura com algum mediatismo na Holanda (chegou a apresentar um programa infantil), “a grande força motriz” por detrás deste Ketelhuis (e de uma série de outros negócios mais ou menos satélites), que, entretanto, regressou a Portugal, a Palmela – onde está, aliás, a supervisionar o alargamento da área de actividade do “grupo”. Numa área criativa este restaurante é também uma base para “dar espaço a pessoas com ideias”, para dar “algo que os restaurantes normalmente não têm”. Enquanto jantamos, há um concerto na sala de cima; às quintas e sextas, há stand-up comedy, “muito informal”. “Queremos questionar as fronteiras dos restaurantes, descobrir o que funciona de um ponto de vista cultural.”
O Strijp-S foi uma espécie de projecto-piloto na Holanda, “agora outras cidades estão a aproveitar antigas fábricas para estas iniciativas”, explica Carline Sterk, do Turismo de Eindhoven, uma das nossas guias pela cidade. Aqui na cidade, o Strijp-S também teve a mesma função: foi o primeiro dos Strijps (que até 1920 eram fora de Eindhoven, até serem absorvidos pela actividade da Philips) a ser “entregue” a criadores, mas não a única. O T já tem algumas empresas, alguns designers, “mas não abertos” e em breve terá uma incubadora de design e inovação; o R já é um ponto de peregrinação graças a Piet Hein Eek, designer holandês de reputação internacional que aqui se instalou, com fábrica, showroom, galeria e restaurante-bar.
A dama branca
Piet Hein Eek é um dos antigos alunos da Academy for Industrial Design in Eindhoven, fundada em 1947 e, entretanto, “transformada” em Design Academy Eindhoven (DAE), aquando da sua transferência para De Witte Dame (“a dama branca”, um antigo edifício da Philips). Não é apenas mais uma instituição de ensino superior na cidade: é o pólo internacionalmente (re)conhecido de onde partiu grande parte do renascimento da cidade. É que, em Eindhoven, os novos designers encontram também as condições para desenvolver os seus projectos, graças às indústrias, sobretudo tecnológicas. Afinal, Eindhoven é o epicentro do BrainPort, “região” formada com o objectivo claro de atrair investimentos nas áras da ciência e da tecnologia, num envolvimento entre as instituições universitárias, o governo e a iniciativa privada — e com “partilha de conhecimento”, sublinha Erik van Gerwen. “Acho que é a verdadeira chave do sucesso.”