“Foi há cerca de três anos que começaram a aparecer coisas mais inovadoras aqui”, recorda, até então era tudo “mais tradicional”. Por isso, confessa, nem sequer tinha interesse em instalar-se em Eindhoven. “Pessoalmente, não me atraía, não era muito bonita, faltava-lhe carisma.” Tinha o restaurante em Valkenswaard, perto de casa, e estava satisfeito. Nos seis anos de funcionamento, o Vida Pura ganhou fama: no ano passado foi apontado para estrelas Michelin — e os proprietários do hotel para estadias longas The Little Grand, aberto há ano e meio, eram clientes. Propuseram-lhe tomar conta do espaço que tinham e cinco minutos depois da reunião o negócio estava fechado. É que, entretanto, “as pessoas tentaram dar nova vida à cidade”.
Valerie Fick, da família proprietária do The Little Grand, parece concordar. “Antes, tinha de ir a Amesterdão ver os amigos de lá. Agora são eles que querem vir”, conta. Ela, que sempre viveu em Eindhoven, trabalha no hotel que é, sobretudo, “uma casa com serviço de hotel”, resume. “A nossa ideia principal é que as pessoas se sintam em casa, é proporcionar um ambiente acolhedor.”
Não querem ser maiores, querem ser os melhores para os lucky seven. Porque são apenas sete os apartamentos: cada é um mundo à parte, sofisticação discreta e autónomo. Mas quem quer autonomia quando se tem Marcel, o mordomo, para tratar de tudo? “Cozinho, lavo roupa, vou de helicóptero buscar clientes a Amesterdão, vou fazer compras com os hóspedes”, descreve com bom humor evidente, na sua pose de modormo “moderno” — alto, magro, calças escuras, camisa às riscas, laço castanho de cabedal, sapatos castanhos pontiagudos. Está 24 horas ao serviço, mas diz que “é um passatempo”. Do que mais gosta é do facto de os clientes voltarem — dá-lhe a oportunidade de ainda prestar um serviço “mais personalizado”.
Pedro Ferrão também reconhece a nova dinâmica da cidade, que vai desde a nostalgia dos espaços da Philips — “muitos aproveitados para festas techno”, um estilo muito popular em Eindhoven, rampa de lançamento de muitos DJ conhecidos, incluindo o DJ Tiesto —, aos vários espaços para concertos, sem esquecer a Stratumseind, considerada a mais longa rua de bares do país — cerca de 40. Aí concentram-se os mais jovens (e esta é uma cidade universitária), e se queremos conhecer um pouco da antiga Eindhoven é o caminho a percorrer, e não só porque se passa pela igreja neo-gótica de Santa Catarina (século XIX). Há várias casas antigas, embora se possam perder entre outras mais recentes — os rés-do-chão transbordam em esplanadas para a rua. O Bergen é outro dos bairros antigos onde a noite se vive, mas aí por uma faixa etária mais elevada. Tem o charme mais reconhecível de outras cidades holandesas, com uma arquitectura mais tradicional, e uma oferta ecléctica. Uma caminhada pela rua Kleine Berg é eloquente: galerias de arte e lojas com toda a parafernália de merchandising pop, bares, cafés e restaurantes (italianos, franceses, turcos, japoneses), pastelarias e livrarias, lojas de música e da Apple.